Economia & Mercado

Crise: empresários baianos acreditam que 2016 será mais um ano difícil

Publicado em 24/10/2015, às 09h16   Rodrigo Daniel Silva (@rodansilva)


FacebookTwitterWhatsApp

A receita para um país entrar em crise é simples e conhecida de todos. Basta apenas a sociedade perder a confiança que a economia desacelera. Bancos não querem emprestar dinheiro, porque não sabem se os empréstimos serão honrados. Os consumidores temem comprar, com medo de ficarem sem dinheiro no futuro. Os empresários têm receio de investir, porque não sabem se terão retornos lucrativos. E para sair deste circulo vicioso não é fácil.
Carlos Andrade, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), é um dos empresários baianos que acha o momento atual desfavorável para se ampliar os investimentos. "Vamos torcer para que as coisas melhorem, mas o ambiente é sombrio, apesar de sermos otimistas. Temos que planejar onde investir, pensar duas vezes. Quando não há perspectiva ninguém quer investir", avalia. De acordo com ele, o setor do comércio e serviços deve fechar 2015 com uma queda de 15%.
O empresário Luciano Muricy Fontes, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), também não vislumbra no horizonte um cenário animador. Para ele, enquanto não houver uma solução para o “imbróglio político” que vive o país a tendência é a economia se retrair. “Esse imbróglio político precisa ser resolvido urgente para que o dinheiro volte a circular”, apela.
Levantamento feito pela Ademi-BA mostra uma queda este ano no número de unidades vendidas e lançadas. De acordo com a entidade, de janeiro a agosto de 2015 houve uma queda de 18% nas unidades vendidas em comparação ao mesmo período do ano passado.
No caso das unidades lançadas, a retração foi ainda mais brusca. De janeiro a agosto de 2014, foram 1.321 lançamentos, já no mesmo intervalo de tempo de 2015, foram 431 unidades. Uma queda de quase 68%. O estoque de unidades este ano já chega a 8.341. “Se não fosse o programa Minha Casa, Minha Vida, o setor estaria ainda pior”, conta o presidente da Ademi.
Na mesma linha de Andrade e Muricy Fontes, o gerente Ricardo Kawabe, da Gerência de Estudos Técnicos da Superintendência de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), espera uma recuperação da economia baiana no próximo ano, mas acredita que mesmo com uma melhora não haverá um crescimento vigoroso.  
Segundo avaliação dele, a elevação do câmbio e a recuperação do ambiente externo podem fazer com que a máquina da economia volte a girar. “No entanto, não será uma recuperação vigorosa por conta da persistência dos problemas políticos e de expectativa ainda não favoráveis”, assinala.
Dados da Fieb relevam que de agosto a setembro deste ano sete dos 12 segmentos da indústria da Bahia tiveram uma variação percentual negativa comparando com o mesmo período do ano passado. Segundo a entidade, a queda maior foi na indústria de equipamentos de informática (-58,4%) e a metalúrgica (-19%).
Mas, o que chama atenção é o aumento expressivo da indústria de veículos automotores no estado. De acordo com a Fieb, o segmento cresceu 28,1% de agosto a setembro de 2015 em relação aos mesmos meses do ano anterior. “Esses valores, no entanto, tendem a cair nos próximos meses devido a férias coletivas da fábrica de automóveis, iniciada em meados de setembro”, pondera o gerente Ricardo Kawabe.
O empresário Felipe Sica, diretor de Tecnologia e Operações da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Salvador, não foge a regra e crê também que 2016 será mais um ano difícil para o setor produtivo. “Esperamos que o governo federal acerte o rumo das políticas públicas que afetam o desempenho do país, e que seja administrada a crise política, que resulta em prejuízo para todos, e também tem efeito na economia. De nossa parte, vamos trabalhar para que o próximo ano seja melhor do que tem sido 2015”, destaca.
Portas fechadas
Os dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) refletem a gravidade da crise da economia baiana. De janeiro a agosto deste ano, 37.224 postos de trabalhos com carteira assinada foram perdidos. É como se toda a população de uma cidade como Cachoeira, no Recôncavo baiano, tivesse ficado desempregada em apenas oito meses. Ou como se a torcida inteira do Ba-Vi do dia 3 de outubro tivesse sido demitida do seu emprego.
Conforme dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), os setores que mais demitiram este ano foram a construção civil (-25.222), o comércio (-10.247) e o serviço (-10.159). O segmento da agropecuária e a administração pública foram na contramão. Nos primeiros oito meses, contrataram 7.686 e 2.198, respectivamente. A estimativa do presidente da Fecomércio-BA é de que 1 milhão de brasileiros percam seus empregos este ano.
Mais encargo
Um fator que tem deixado os empresários baianos de “cabelo em pé” é o aumento e criação de novos impostos como a CPMF, isto porque, com a elevação, a tendência é de redução do consumo. Pagando mais para adquirir o produto, o consumidor ficará mais cauteloso no momento da compra. “Com esse governo desgovernando, juros altos e uma carga de imposto elevada, como sobreviver?”, questiona o presidente da Fecomércio-BA. “Não vemos uma luz no fim do túnel”, acrescenta.
Alvo de atrito entre o prefeito ACM Neto (DEM) e o governador Rui Costa (PT), a proibição do Imposto sobre a Transmissão de Intervivos de Bens Imóveis (ITIV) foi um dos impostos que contribuiu para a desaceleração este ano do setor da Construção Civil, segundo avaliação do presidente da Ademi. “Criou uma dificuldade no mercado. Não sei dizer quanto, mas evidentemente dificultou. Salvador é a única cidade que cobra o ITIV na hora da compra”, afirma.
Segundo ele, hoje o consumidor que queira adquirir um imóvel tem que pagar 3% sobre o valor no momento da compra. Ou seja, se comprar um apartamento de R$ 400 mil terá que desembolsar R$ 12 mil de imposto na hora de adquirir. “É um valor muito pesado”, avalia Muricy Fontes. 
O presidente da Ademi disse ainda que espera sensibilidade do prefeito ACM Neto para que autorize o parcelamento do ITIV não só de imóveis lançados. “A proibição veio em um momento muito difícil da economia. Todo aumento do imposto será condenado pelo empresário. Já temos uma carga tributária insuportável, só complica”, ressalta.

Publicada no dia 23 de outubro de 2015, às 14h

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp