Economia & Mercado

Com subida do salário mínimo, aumenta o dilema do empresário: “diminuir o quadro ou demitir”

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Segundo o governo federal, o novo salário mínimo altera o valor de cálculo de benefícios previdenciários, sociais e trabalhistas  |   Bnews - Divulgação Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Publicado em 04/01/2022, às 06h10   Samuel Barbosa



Entrou em vigor no último sábado (1º), o novo valor do salário mínimo no Brasil, que passa a ser de R$ 1.212 por mês. A mudança foi oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro por meio de medida provisória no último dia de 2021.

O novo valor considera a correção monetária pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) de janeiro a novembro de 2021 e a projeção de inflação de dezembro de 2021, estimada pela área técnica do Ministério da Economia. No total, o aumento será de 10,18% em relação ao valor anterior, que era de R$ 1.100.

Segundo o governo federal, o novo mínimo altera o valor de cálculo de benefícios previdenciários, sociais e trabalhistas. No caso das aposentadorias e pensões por morte ou auxílio-doença, os valores deverão ser atualizados com base no novo mínimo. O mesmo vale para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que corresponde a um salário mínimo e é pago a idosos a partir de 65 anos e pessoas com deficiência de baixa renda.

Para a empregada doméstica Maria José de Oliveira, de 55 anos, o valor é pouco diante do custo de vida que o soteropolitano tem atualmente. “Pra falar a verdade R$ 1.212 por mês não é nada pra quem paga aluguel, só o meu é R$ 400. E não é só isso, a gente faz mercado, paga luz. Tá tudo muito caro, mas mesmo assim a gente ainda tem que dar graças a Deus”, relata.

Mas, se para o trabalhador a diferença entre o antigo e o novo salário é pouca, para os empregadores a diferença impacta de forma significativa no orçamento. O empresário Daniel Canedo é dono de uma gráfica rápida e uma empresa de tecnologia em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ao todo ele emprega 11 funcionários.

Em conversa com o BNews, Daniel disse a situação é preocupante porque a economia do país ainda sequer se recuperou do baque causado pela pandemia. "O mercado tá parado ainda, ainda está vivendo os resquícios da pandemia, as vendas não cresceram, não melhorou e a gente agora vai ter o aumento. Por exemplo, eu tenho 11 funcionários, vou ter um aumento de quase 10%, se você colocar uma média salarial de R$ 1.200 dá quase mais R$ 1.200 por mês pra desembolsar só pra folha, fora os encargos. E de onde você vai tirar isso? Não tem de onde tirar porque você não vai ter um crescimento de vendas nesse patamar. A energia aumentou quase 30%, o combustível, tudo aumentou, só que as vendas não aumentaram".

Canedo explica que diante da dificuldade de aumentar os preços dos produtos e contratos de suporte técnico oferecidos por sua empresa, é preciso buscar alternativas para que seu estabelecimento continue em funcionamento. "Só resta uma coisa, ou diminuir o quadro, demitir um ou dois funcionários, ou diminuir as horas trabalhadas, pegar dois ou três funcionários e colocar para trabalhar apenas meio expediente, já que o estado ainda permite que se faça isso. Colocando na ponta do lápis com os encargos dá quase R$ 2 mil cada assalariado, para uma empresa custa caro, é um aumento de salário que deveria vir acompanhado de outros benefícios, ou seja, deveria desonerar isso da folha, poderia ter um aumento que você não tivesse oneração da sua folha o que praticamente é impossível e que o governo não quer".

Dieese

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que o salário mínimo de 2022 não é o suficiente para comprar duas cestas básicas na cidade de São Paulo em janeiro, que deverá custar em torno de R$ 700 neste mês.

Composta por 13 itens, a cesta básica tem valor que varia em todo o país. Na maioria das capitais, o preço é mais alto que a metade do novo salário mínimo.

A mais barata é encontrada em Aracaju, vendida por R$ 473,26. Já a cesta mais cara foi encontrada em Florianópolis, por R$ 710,53.

Uma família, no entanto, não tem apenas a alimentação na conta do mês. Um salário é o suficiente para encher apenas três vezes um tanque de carro de 60 litros com gasolina, por exemplo.

Para o Dieese, o valor do salário mínimo deveria ser de quase R$ 6 mil em 2022, considerando os preços no Brasil atualmente.

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