Economia & Mercado

Mercado plus size ainda é colocado de lado pelo comércio baiano; segmento movimenta R$ 7 bi no Brasil

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Na Bahia, ainda há poucas lojas e marcas com peças de tamanhos superiores a 46  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Instagram

Publicado em 31/10/2019, às 18h16   Márcia Guimarães


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Roupas que não cabem, cortes que não favorecem, estampas que envelhecem. Estes problemas são comuns à maioria das pessoas, mas quem veste acima do 46 vive essas dificuldades com mais frequência. Enquanto São Paulo abriu os olhos e o mercado para o segmento plus size, a Bahia ainda não despertou para esse nicho que movimentou, apenas em 2018, mais de R$ 7 bilhões no país, segundo dados da Associação Brasileira do Vestuário.

Para a advogada Letícia Bacelar, há poucas lojas e marcas com peças de tamanhos superiores a 46. “Os modelos não são para todos os estilos e você termina comprado ‘o que cabe’ ao invés de algo que realmente goste/seja seu estilo. As melhores roupas trago de fora da Bahia por compras online ou em viagens. Para dar uma ideia, quando engravidei não achava uma calça aqui que coubesse meu corpo e barriga. Tudo bem pequeno. Imagina se apenas gorda não há variedade, pensa gorda e grávida? Pior ainda!”, contou Letícia.

Outro problema relatado pela advogada é a falta de traquejo dos vendedores na maioria das lojas, principalmente as que ofertam peças somente até o GG. “Sempre encontro muito preconceito na hora das compras. Ouço muito: ‘os tamanhos grandes já terminaram ou não temos nada para seu tamanho’. Fico sem entender por que não tem mais opções se termina rápido. Não seria porque a maioria das mulheres ‘reais’ usam tamanho acima do 44? Muita loja não tem número acima desse!”, reclamou.

Especialista em mercado plus size, a consultora e criadora de conteúdo de moda e imagem Kika Maia diz que é crucial para esta área uma especialidade no atendimento. “Um lojista mal treinado pode tocar em feridas profundas dos clientes. A maioria dos gordos já passou por preconceitos e situações vexatórias, e ainda temem a exposição, mesmo havendo hoje em dia uma militância de conscientização de que a culpa desses maus tratos nunca é da pessoa que os recebe”, destacou Kika.

Ela lembra que plus size é um termo do mercado da moda, que carrega menos preconceito que a palavra gorda. Contudo, essa expressão caracteriza um desfile, uma loja, uma modelo, uma consumidora, mas não a mulher. 

“A mulher é gorda! Muita gente não gosta de usar o termo gorda porque ele carrega muitos aspectos negativos que foram sendo agregados durante décadas. Gordo sempre foi sinônimo de feio, preguiça, gula, desleixo, porém isso não é mais aceitável. Hoje, a militância faz um trabalho de apropriação da palavra gorda para normalizá-la. Mais ou menos assim: ‘Sou gorda mesmo, mas isso não faz de mim feia!’. Beleza é uma construção social, assim como os preconceitos, por isso devemos nos apropriar de quem somos sem medo de ser feliz”, lembrou Kika.

Salvador x São Paulo

A especialista acredita que a capital baiana jamais conseguirá chegar no patamar de São Paulo quando o assunto é mercado plus size. Ela aponta que Salvador pode aumentar a sua produção e revenda de peças de números maiores, mas o Brás e o Bom Retiro (SP) são um polo industrial que atendem o Brasil inteiro. “As facilidades de mercado que existem lá não temos sequer algo próximo por aqui, nem na moda slim”, pontuou.

Goiânia e Fortaleza também oferecem produtores de moda para atacado plus size. Essas cidades perceberem a carência desse mercado, principalmente de peças acima da numeração 50. 

Kika começou revendendo marcas de São Paulo e utilizava o Instagram, dentro do seu planejamento de marketing, também para valorizar a mulher gorda. “Por eu ser gorda, sabia a dor das minhas clientes e, quando eu percebi, já estava militando contra os preconceitos que existem na sociedade”, recordou.

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