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BRF altera governança, fecha parceria com PF e se pacifica

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Empresa, que discute acordo de leniência, colabora na nova fase da Carne Fraca   |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 02/10/2019, às 06h41   Raquel Landim, Folha


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No dia 27 de abril de 2018, Pedro Parente presidiu sua primeira reunião do conselho de administração da BRF, a gigante das carnes dona das marcas Sadia e Perdigão. Ele havia sido eleito na véspera, numa conturbada assembleia de acionistas, para o posto antes ocupado pelo empresário Abílio Diniz.

Conforme pessoas presentes ao encontro, Parente deixou claro ali que teria duas prioridades em sua gestão: estancar os prejuízos da companhia, que operava no vermelho por causa de erros da gestão anterior, e investigar a fundo as acusações feitas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público contra a empresa.

Cerca de um mês e meio antes, o ex-presidente da BRF, Pedro Faria, havia sido preso no âmbito da Operação Trapaça. Faria permaneceu apenas alguns dias na cadeia, mas as investigações atingiram a empresa em cheio.

A Trapaça era um desdobramento da Operação Carne Fraca, deflagrada em março de 2017, que acusava os frigoríficos brasileiros de vender carne estragada e de pagar propina a fiscais do Ministério da Agricultura para encobrir os maus feitos.

As suspeitas de má qualidade provocaram o fechamento de diversos mercados, prejudicando as exportações de carne do país, mas nunca foram comprovadas. Já as acusações de pagamento de propina aos fiscais —uma prática conhecida por quem conhece o setor— prosperariam.

No início de maio de 2018, poucas semanas após Parente assumir a chefia da BRF, a empresa instalou um comitê independente de investigação, que envolvia apenas membros do conselho com a ajuda de oito escritórios de advocacia independentes, como o americano Miller & Chevalier e o brasileiro TozziniFreire Advogados.

Um comitê desse tipo havia sido testado com sucesso na Petrobras, envolvida na Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção da história do país. Parente comandou a petroleira durante sua “reconstrução” após a crise.

Além dele, o advogado Francisco Petros, que atuou como conselheiro no comitê de auditoria da Petrobras naquela época, passou a exercer função similar na BRF.

Petros foi indicado ao cargo pelos fundos de pensão Petros e Previ, maiores acionistas individuais da BRF.

Quatro meses depois, em setembro de 2018, a BRF passou a municiar sob sigilo a Polícia Federal com as informações obtidas em suas investigações internas e a discutir um acordo de leniência —uma espécie de delação premiada das empresas— com o MPF. Segundo apurou a reportagem, as negociações ainda estão em curso.
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Em outubro de 2018, a PF indiciou Diniz, Faria e outras 41 pessoas investigadas desde a  Trapaça. Simultaneamente, a BRF afastou preventivamente os funcionários envolvidos que ainda estavam na empresa —no primeiro sinal público de que agia em conjunto com as autoridades.

A parceria entre BRF, PF e MPF culminou nesta terça-feira (1º) na Operação Romanos, que investiga 60 fiscais agropecuários por receber cerca de R$ 19 milhões em propina.

O mercado financeiro aprovou a cooperação da empresa e as autoridades, porque as ações da empresa, que chegaram a cair 1,8% no começo do pregão, fecharam o dia com uma perda mínima, de 0,57%.

Na coletiva de imprensa, os delegados da PF agradeceram a colaboração “espontânea” de uma empresa —sem citar nominalmente a BRF— e admitiram que a parceria só foi possível graças a uma mudança na gestão administrativa.

Pessoas próximas ao comando da empresa disseram à reportagem que a chegada de Parente não mudou só o conselho mas também pacificou a companhia, que enfrentou por meses luta ferrenha entre dois grupos de acionistas.

De um lado, estavam os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil). Do outro, Abílio Diniz e o fundo Tarpon. Com apoio da Tarpon, Diniz havia assumido o conselho da BRF em abril de 2013 no lugar de Nildemar Secches, o executivo que liderou o crescimento da Perdigão e a fundiu com a Sadia.

O processo foi turbulento e deixou marcas. Diniz e os sócios da Tarpon criticavam os ex-administradores e prometiam elevar o preço da ação a R$ 100, mas não conseguiram. Acabaram promovendo mudanças que elevaram perigosamente o endividamento da empresa e provocaram prejuízos.

Em meio à crise, veio a Operação Carne Fraca, o que ampliou a insatisfação dos fundos de pensão e dos demais acionistas. Ainda na gestão de Diniz, a empresa até montou um comitê especial de resposta à crise e a fortalecer um comitê interno de auditoria, mas com poucos resultados.

Após a chegada de Parente, foram feitas alterações de governança para robustecer os controles. Do lado da gestão, a empresa também realizou mudanças, mas ainda não recuperou sua rentabilidade, e as ações seguem abaixo do desejado. Os papeis fecharam nesta terça a R$ 37,99.

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