Feriado / 2 de Julho

Qual a importância do 2 de Julho para a Independência do Brasil? Entenda a história

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Historiadores Itan Cruz e Jaime Nascimento trazem a importância do 2 de Julho para a Independência brasileira  |   Bnews - Divulgação AHMS/Secult
Sanny Santana

por Sanny Santana

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Publicado em 08/06/2023, às 05h30



Muito mais que a Independência da Bahia, o 2 de Julho teve grande importância para todo o Brasil. Palco de conflitos sangrentos que renderam na morte de grandes nomes do combate, a Bahia foi também uma das, senão a protagonista da maior conquista do nosso país: a independência.

Conforme o historiador Itan Cruz, entrevistado pelo BNews, o Brasil estava dividido entre os que sonhavam com um país unido a Portugal, sob o reinado de D. João VI; haviam aqueles que queriam a Independência da metrópole européia e a instauração de uma República; e ainda aqueles que defendiam um governo sob D. Pedro, centralizado no Rio de Janeiro, como acabou acontecendo.

A Bahia vivia, naquela época, como uma das principais regiões escravistas, onde também se produzia boa parte da riqueza de todas as posses portuguesas. Além disso, havia uma alta taxa de produtividade da cana-de-açúcar, principalmente no Recôncavo baiano. 

"Este contexto de riquezas da Bahia, expressas em escravizados e açúcar, também equiparava-se à sua importância política. Não foi à toa que a Bahia elegeu nove deputados gerais para as Cortes em Lisboa, em 1821, ficando somente atrás de Minas Gerais, que reuniu 12 representantes. Logo depois da Bahia vinham Pernambuco, com oito deputados, São Paulo com seis e Rio de Janeiro com cinco. As Cortes eram uma espécie de assembleia geral de representantes de todas as partes dos domínios portugueses de então", explica Cruz.

Segundo o também historiador Jaime Nascimento, a Bahia ainda está localizada em um local que era considerado de grande importância em termos político-econômicos, já que, do teritório baiano, era possível alcançar a Europa e a África com maior facilidade, além de ter o município de Feira de Santana, uma das maiores cidades do país e que se destaca como o maior entroncamento rodoviário do Norte-Nordeste com suas rodovias.

Início da ideia da Independência

Itan Cruz conta que, no ano anterior, em 1820, já havia estourado a Revolução liberal do Porto,  que passou a exigir o retorno de D. João VI a Portugal, - que estava no Rio de Janeiro -, a limitação dos seus poderes em uma Constituição e a redefinição do Brasil numa relação de poder desvantajosa em relação ao país europeu.

"Ao perceberem as intenções dos portugueses como uma ameaça aos interesses de seus conterrâneos, um grupo significativo de deputados brasileiros decidiu fugir de Portugal e fortalecer a ideia de Independência. Um desses deputados gerais que mais se destacaram foi o baiano Domingo Borges de Barros, senhor de engenho de Santo Amaro, no Recôncavo baiano. Ele passou a trabalhar para que a França reconhecesse a emancipação política do Brasil", explica. 

Segundo Nascimento, chega, enquanto isso, a ordem de Portugal para que os comandantes brasileiros das forças militares e de quartéis fossem substituídos por portugueses. "Então começa uma disputa em Salvador, onde era o comando no Forte de São Pedro, para que os portugueses ocupassem o cargo e fossem epossados, enquanto o brasileiro destituído deixasse. Em meio a essa disputa, começa, de fato, a guerra, e as lutas vão acontecendo por mar e terra", conta o historiador.

Itan Cruz também destaca os tempos difíceis passados pelos portugueses e pelos brasileiros. "Enquanto Borges de Barros se empenhava no Velho Mundo, deste lado do Atlântico seus compatriotas organizaram resistência frente à tentativa portuguesa de inibir qualquer levante. Inácio Luís Madeira de Mello, nomeado Comandante de Armas na Bahia por Portugal, enfrentaria dias difíceis nas batalhas que se sucederam em vários pontos do Recôncavo a partir de 1822", inicia.

"Não foram tempos fáceis também para os combatentes 'brasileiros'. Uma Junta Provisória sediada em Cachoeira e formada por muitos conhecidos de Borges de Barros, tomaria parte das investidas contra os lusitanos e em favor do reinado de D. Pedro. Entre eles estava José Joaquim Pinheiro de Vasconcellos, seu primeiro secretário. Vários escravizados foram atraídos para o combate pelo desejo próprio ou pela promessa  de terceiros de que alcançariam a liberdade. Muitas mulheres, indígenas, caboclas, negras ou brancas, anônimas e conhecidas posteriormente, a exemplo de Maria Quitéria de Jesus, Maria Filipa e Joana Angélica se envolveram nos conflitos, cada uma à sua maneira, empunhando armas de fogo, cansanção ou de peito aberto", completa.

O conflito teve seu fim com a vitória dos brasileiros sobre portugueses, em uma emocionante manhã de 2 de julho de 1823.

"Isso acontece justamente na madrugada entre 1° e 2 de julho de 1823, e é por isso que o hino do 2 de Julho diz que o sol do dia 2 brilha mais que no primeiro, porque é o sol da liberdade. Na madrugada do dia 2, as tropas portugueses fogem e abandonam a cidade. Quando entra esse exército libertador, eles passam pela Estrada da Liberdade, daí o nome do bairro, passam pela Soledade, Lapinha, São José, Centro Histórico, param na frente do Terreiro de Jesus e depois seguem em direção a Câmara de Vereadores", conta Jaime Nascimento.

De acordo com Itan, o envolvimento dos baianos nas batalhas pela Independência foi, inclusive, o motivo pelo qual a Bahia tardou em eleger seus representantes para a primeira Constituinte, que foi instaurada em maio de 1823, no Rio de Janeiro, na qual os baianos só chegariam no último trimestre daquele ano.

"Os conflitos ocorridos na Bahia reorganizaram as elites locais, trazendo-as para ainda mais próximas do poder central, encarnado pelo imperador, no Rio de Janeiro. Os baianos passaram a ocupar lugares de evidência com mais frequência, a exemplo dos mulatos Antonio Pereira Rebouças e Francisco Jê Acaiaba de Montezuma e vários outros conterrâneos que foram alçados à condição de ministros e conselheiros de Estado e do Imperador", explica Itan.

Esse fenômeno se intensificaria mais tarde, ao longo do Segundo Reinado (1840-1889), quando a preponderância de baianos, escolhidos por D. Pedro II para os sucessivos governos ministeriais, lhes renderia protestos dos outros brasileiros, que se queixariam dos chamados "dias de baianismo".

Desde as primeiras décadas do Império do Brasil, o 2 de Julho tem sido celebrado pelos baianos dentro e fora da Bahia, se tornando uma data marcante no calendário de festividades populares para rememorar quando baianos, e muitas pessoas africanas escravizadas, apostaram em diversos projetos de nação.

"[O Brasil] saiu vitorioso diante de um Império escravocrata apoiado por muitos homens desta parte do país, que ignorou várias das promessas de liberdade feitas aos escravizados alinhados às forças brasileiras. O caboclo e a cabocla, símbolos dos guerreiros da terra contra a dominação portuguesa, também representam essa enorme parcela da população traída por um projeto de país extremamente hierarquizado, compactuado com a continuidade do tráfico de africanos escravizados e com o cerceamento de direitos à população negra", declara Itan.

Classificação Indicativa: Livre

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