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Diretor do Nana, Hugo Ramos aposta nos serviços e faz raio-x do Carnaval

Publicado em 11/02/2017, às 00h00   Rafael Albuquerque


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* Rafael Albuquerque
O empresário Hugo Ramos, um dos diretores do Camarote do Nana, fez um raio-x do Carnaval de Salvador, apontou alguns problemas e deixou claro que a alternativa para a crise nos blocos é a união dos empresários, poder público, sociedade e artistas. “É fácil a gente procurar sempre um culpado, ou uma pessoa, mas é importante entendermos que Salvador mudou muito nos últimos anos”, afirmou.
Nesta entrevista ao Bocão News, Hugo também falou sobre de que forma os camarotes sobrevivem com a crise econômica e citou o serviço como grande diferencial do Camarote do Nana. “A gente acredita que esse é o caminho para você fidelizar o seu cliente. É você oferecer sempre o melhor serviço a ele”, explicou o empresário. 
O Nana, que completa 15 anos na folia, fica localizado no antigo Salvador Praia Hotel e oferece um espaço confortável e exclusivo. O camarote terá shows de Netinho, Bell Marques, É o Tchan, Chiclete com Banana, Timbalada, Psirico, Jammil, Harmonia do Samba e vários outros. O diretor do Camarote lembrou que o Nana tem uma gastronomia diferenciada e é o único camarote de Salvador com acesso exclusivo à praia. Confira a entrevista abaixo:
Bocão News:o Camarote do Nana está debutando em um período econômico não tão favorável. Entretenimento e cultura sofrem com essa crise. Para enfrentar esse problema, qual a estratégia montada pelo Camarote do Nana?
Hugo Ramos: Na verdade, o Nana se notabiliza durante toda sua história vencedora como um produto que entrega um serviço diferenciado. A gente sempre teve como preocupação o bem-estar do nosso folião. A gente foi um dos primeiros camarotes a ter sanitários climatizados, a ter o all inclusive, a gente foi instituindo restaurantes dentro de nossa estrutura. Acreditamos que esse é o caminho para você fidelizar o seu cliente, é você oferecer sempre o melhor serviço a ele. 
BN: Mas esse ano tem, também, o diferencial da grade de atrações.
HR: Isso. É uma outra característica de nosso camarote. Apostamos em uma grade com produtos genuinamente baianos. Isso sem desmerecer qualquer outro segmento musical, até porque o carnaval é plural e tem espaço para todos, mas a gente entende que o Carnaval precisa se remeter à nossa raiz da alegria do Carnaval, do que representa para cada folião que vem. É fantástico você conhecer as histórias das pessoas que se conheceram nos camarotes, dos relacionamentos que se iniciaram, das músicas que marcaram, e tudo isso se consolida com a história do próprio Carnaval baiano, dos artistas baianos. E a gente fez uma homenagem a todos eles com o slogan “Vem ser baiano”. 
BN: Hoje você tem uma estrutura para quantas pessoas por dia?
HR: a capacidade dele não reflete o que a gente opera do ponto de vista de público. Hoje a gente tem um público que varia de três a três mil e quinhentas pessoas, que são divididas basicamente em três ambientes: o mirante frontal, a praça central e nosso grande diferencial que é o acesso à praia, onde acontecem os shows à noite.
BN: É o único que tem o acesso à praia?
HR: é o único que, acredito, permite o acesso à praia. Contando com estrutura de segurança, salva-vidas, acho que somente a gente permite. 
BN: Baseado na experiência dos outros anos do camarote, você tem um percentual de turistas que vêm ao Nana?
HR: a gente tem um percentual grande de público local, de 50% a 55%, e os turistas representam de 40% a 45%. Esse número não é tão preciso porque quando chega a véspera do Carnaval, o grande momento de venda, há muita venda presencial feita direto ao portador em balcões, shoppings e aeroportos, e com isso acabamos sem ter como mensurar alguns dados. 
BN: De que forma foi montada a grade de atrações e quais os critérios utilizados para isso?
HR: todos os camarotes de grande porte trabalham com as principais atrações do país, com produtos cobiçados por todos, e não temos como fugir disso. Existem camarotes que trabalham com a linha sertaneja, e a gente, se você pegar nossa grade do ano passado, nós repetimos e incluímos outras atrações. O Harmonia, o Tchan, Léo Santana, Psirico, Bell e Timbalada tocaram ano passado e continuam esse ano. Foi uma grade muito feliz e o folião se diverte bastante. Optamos em escolher as segundas atrações de cada noite também daqui. Então, temos de novidade Tuca, Jammil, Rafa e Pipo, por exemplo. Para o artista é bacana que ele já toca em determinado dia, e para o folião também é interessante. Nosso objetivo foi buscar o melhor possível dentro do que as condições permitem. 
BN: Você citou o serviço, mas os principais camarotes apostam nisso para atrair o folião. Então, diante dessa concorrência que acontece de forma natural entre os camarotes, de que forma o Nana se coloca?
HR: isso é uma postura antiga nossa. Desde o início a gente entendeu que o serviço seria nosso principal diferencial. Em nosso projeto de quatro anos atrás mudamos nossa estrutura arquitetônica para termos ambientes fixos de restaurantes. Então, quando a gente anuncia que vai ter uma churrascaria, a gente vai ter um espaço com 200 cadeiras, não um box. Nosso restaurante japonês da mesma forma, com a melhor estrutura. Temos uma sala de 400 metros quadrados, como se você fosse em algum japonês da cidade. Esse ano nosso japonês será o Shiro, então no camarote é como se você fosse mesmo ao restaurante com todo o conforto, cadeiras, ar-condicionado. Nosso pilar básico foi sempre oferecer o melhor da melhor forma. Procuramos parceiros de renome, a exemplo do “Baby Beef”, o “Shiro”, além de um restaurante de massas, a pizzaria “Di Mari”, hambúrguer do “Acqua Café”, sorvetes “Ola, que tal?”, além de outras supresinhas que vão se montando para as pessoas que chegam aqui. Ano passado colocamos um item que fez um sucesso enorme que foi o “Coxa Coxinha”.
BN: Não dá para falar sobre o Camarote e seu contexto de luxo e serviços sem falar da parte de fora. Eu queria saber de que forma você enxerga o Carnaval atualmente e, também, as críticas que imputam aos camarotes o fracasso que se vê hoje nos blocos.
HR: o Carnaval, na minha forma de enxergar, talvez seja a festa mais democráticas que possamos ter, isso do ponto de vista socioeconômico. Independentemente de estar em bloco ou camarote, qualquer um pode brincar na rua sem gastar absolutamente nada. É importante a gente entender que não foi só o Carnaval que mudou, mas a sociedade mudou, a cidade mudou. É fácil a gente procurar sempre um culpado, ou uma pessoa, mas é importante entendermos que Salvador mudou muito nos últimos anos. Antes tínhamos os clubes, anteriores ao bloco, em algum momento disseram que eles deixaram de existir por conta do bloco. Eu discordo, acho que o consumidor passou a ter uma necessidade que exacerbava os limites do clube, uma necessidade de se divertir de outra forma. Em determinado momento, você passa a ter uma outra situação, onde a cidade tomou uma proporção absolutamente distante. Não podemos esquecer que Salvador dobrou sua população em muito pouco tempo, tendo hoje uma estimativa de três milhões de pessoas. Quando a gente vai ver nos gráficos, nos anos 90 Salvador tinha dois milhões de pessoas, nos anos 80 tínhamos um milhão e meio, ou seja, a população cresceu rapidamente. Daí nasceram novos circuitos, novas necessidades. Uma cidade que deixou de ter um milhão e meio de pessoas para ter três milhões, é lógico que isso faz a festa mudar. Há 15 anos, por exemplo, a gente tinha certa facilidade para encontrar cordeiros e seguranças, porque o Carnaval era menos violento. A violência se reflete na rua, no Carnaval, e é natural que as pessoas queiram mais segurança, mais conforto. E assim nasceram as opções dos camarotes. Se você fizer uma comparação do Camarote do Nana no primeiro ano e agora no 15º, são produtos absolutamente distintos. Já os blocos não conseguiram mostrar uma diferença, até porque as condições são mais complicadas. Eles estão na rua, em movimento, depende da população, de uma série de outros fatores complexos. Eu acho que a festa é plural, com participação importante dos entes públicos, mas precisa ser repensada.
BN: De que forma?
HR: deve haver a junção de todos. Não adianta a gente buscar um culpado, não falo isso porque eu estou do lado do camarote. Eu tenho sócios que têm camarotes até hoje e passam por dificuldades. Então, devemos imaginar um esquema tripartite entre poderes públicos, sociedade civil com empresários e artistas. Temos que ver de que forma o Carnaval pode ser repensado, o munícipio e o governo devem ver de que forma podem ajudar os blocos com a questão da segurança. Não é justo você contratar mil seguranças e no final do percurso ter só quatrocentos. Todos tem que ter dignidade e seus direitos trabalhistas, isso não está em discussão. Mas há esse problema com os cordeiros, o que assusta o folião que pagou pra ter segurança. Existe a crise? Existe, mas o Carnaval dos últimos anos também retrata uma alegria. Um produto não pode ser analisado por um momento pontual. Temo que sentar e repensar. Não tenho uma formula, mas tenho disposição para sentar e fazer acontecer. Da mesma forma que o bloco é importante para o Carnaval, o camarote também é. Não há o mais importante entre bloco e camarote, o mais importante é o povo, a alegria, movimentos como o Furdunço, que têm uma boa receptividade do público. Hoje temos os blocos abertos. Isso é bom, mas tudo tem um custo. Nesse caso recai sobre o município, e até quando o município poderá suportar? No caso do bloco, ele bancava o artista, mas a pipoca também se divertia com o que o bloco estava colocando. Temos uma festa ímpar, não há Carnaval melhor do que o nosso. 
BN: Você tem algumas ideias que possam ser aproveitadas?
HR: acho que criar alguns espaços como a ideia de Brown (Afródromo) é importante. É sentar e utilizar a criatividade do baiano, e isso ele tem de sobra, a vontade dos entes públicos de fazer a festa em crescer, e a vontade dos empresários. O empresário vive disso e ele tem que fazer acontecer. Para fazer acontecer temos que nos juntar.

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