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Empresário Nei Ávila fala sobre criação do Camarote Club como espaço premium

Publicado em 07/02/2017, às 00h00   Rafael Albuquerque


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* Por Rafael Albuquerque
Com experiência de cerca de 30 carnavais, o empresário Nei Ávila recebeu a equipe do Bocão News em seu escritório, na Ner Entretenimento, para falar sobre uma das maiores novidades deste carnaval: o Camarote Club. Diante de uma festa com potencial como o Carnaval, mas que não tem a inovação necessária por parte do poder público, ficou para a iniciativa privada a tarefa de trazer novidades para a folia.
Uma delas, talvez a maior deste ano, é a junção dos camarotes do Reino e Cerveja & Cia (leia-se Marcelo Rangel), engenharia empresarial que demorou aproximadamente três anos para se concretizar e que deu origem ao luxuoso e cobiçado Camarote Club. Localizado no Clube Espanhol, o espaço terá serviço all inclusive com buffet de alta gastronomia (cardápio especial e variado), bebidas premium e dois grandes shows por noite.
Tudo isso em uma arena coberta e especial, climatizada e com mais de 1.500 metros, espaço mulher (um ambiente dedicado exclusivamente para elas com salão de beleza, maquiagem, customização e massagem), banheiros climatizados e o maior mirante da avenida, com 140 metros de extensão e uma vista mais do que privilegiada do carnaval.
A estrutura é, de fato, uma das maiores do Carnaval de Salvador. O mirante, o maior da folia, com 140 metros de comprimento e 30 metros de largura, é o destaque do Club. Esses e outros aspectos fazem do novo camarote um espaço premium que tem, pela estrutura, serviço e conceito, o Camarote Salvador como principal concorrente. Ávila também fala sobre a crise no Carnaval e nos blocos, sugere a criação de “blocódromos” e afirma que a crise se instalou na folia por falta de ação do poder público. Confira a entrevista abaixo: 
Bocão News:o Camarote Club vem de dois espaços renomados, o Reino da Folia e o Cerveja & Cia. De que forma foi proposta essa engenharia empresarial que deu origem a esse novo espaço? A origem vem da crise?
Nei Ávila: a crise chegou para todos os segmentos, mas essa não foi a principal causa para que a gente fizesse a união. A gente já vinha conversando há um tempo. São dois grupos afins e a gente vinha conversando com o Cerveja & Cia, até pela proximidade geográfica dos camarotes, pois éramos vizinhos. Então, o principal motivo foi esse, a afinidade de se juntar e fazer um camarote maior e melhor, e oferecer um melhor serviço. Tem um arquiteto que diz que espaço é luxo, né? O espaço ali terá 140 metros de mirante. Além disso, terá uma área pra dentro do clube maior e melhor. A gente viu que poderíamos fazer um carnaval dentro do carnaval, então assim surgiu o Club. A ideia é fazer um baile, um clube, uma festa dentro do Carnaval de Salvador, como eram os carnavais dos clubes Bahiano, Yacht, Português e outros.
BN: Há quanto tempo, então, se vinha negociando essa fusão?
NA: essa conversa já vem há uns três anos, mas por conta de contratos, viabilização de interesses, de contratos de patrocinadores não estarem alinhados, a gente só conseguiu fazer isso esse ano. Há um ano a gente intensificou as conversas, e no final de 2016 a gente resolveu se reunir pra preparar esse projeto, que espero que tenha grande longevidade.
BN: Então a parceria já está prevista para outros anos?
NA: a ideia é sempre fundir pra crescer, viabilizar e prospectar coisas melhores. Não pensamos em momento nenhum ter um prazo final, muito pelo contrário. Estamos começando já com um projeto vitorioso, já que o Camarote do Reino tinha 10 anos e o Cerveja & Cia quase 15, então vamos unir os públicos, que por mais que sejam próximos, são diferentes.
BN: Qual o grande desafio de vocês?
NA: nosso grande desafio foi oferecer um serviço melhor de shows, atrações, comida, bebida, de entretenimento.
BN: diante da estrutura do Camarote Club, com 140 metros de mirante, você consegue mensurar algum outro espaço da folia que seja comparável ao de vocês?
NA: eu acho que temos o maior mirante, acredito que não exista outro maior. Tem o Camarote Salvador, que tem quase 100 metros, tem o Villa Mix, que talvez não tenha essa varanda que temos. Acho que a nível de comprimento temos o maior camarote esse ano.
BN: Diante de tantos camarotes, o que o Camarote Club tem a oferecer ao público que compra um abadá?
NA: então, temos esse diferencial da área do mirante, com 140 metros de cumprimento por 30 de largura, temos na parte de trás a área dos shows, toda climatizada, com duas ou três apresentações de bandas e DJs por noite. Na área do mirante também terá uma área pra DJ e pra bandas menores, e na parte debaixo do Club terá o acesso aos serviços com restaurantes, massagens, cabeleireiros, ações de patrocinadores.
BN: o Camarote Club foi projetado para quantas pessoas?
NA: estamos buscando uma quantidade em torno de quatro mil pessoas.
BN: considerando os abadás já comercializados, você acha que vai atingir a meta?
NA: a gente não sabe, mas estamos trabalhando pra isso. É um projeto novo, que ainda não existe um comparativo. As pessoas só vão conhecer depois de experimentar, não dá pra fazer um comparativo. O mercado do Carnaval como um todo está difícil. Fica redundante falar na crise e dizer que isso impacta diretamente no consumo de cada um. A gente acha que vai ser bem-sucedido, vamos alcançar um número bacana e satisfatório, para que as pessoas aproveitem e ano que vem reverberem essa alegria.
BN: A ideia da junção dos camarotes Reino e Cerveja & Cia, desde o serviço até o conceito e o marketing, é de que o Club seja um espaço premium?
NA: sim, sim. A ideia é exatamente essa, dar ao destino do Carnaval mais um equipamento que seja premium, com bebidas importadas, buffet do restaurante Pereira, que agregamos do Cerveja & Cia, e a parte de atrações, que estamos fechando a melhor grade de artistas possível.
BN: Essa segmentação de propor um espaço premium se mostra interessante, mas tem seus riscos...
NA: lógico, eu costumo dizer que o Carnaval de Salvador é a maior festa do mundo. Hoje muitos não brincam em blocos, querem um equipamento diferenciado. E hoje, o baiano aprendeu a oferecer um serviço de camarotes que certamente é um dos melhores do Brasil e do mundo. Eu viajo pelo Brasil e pelo mundo e não vejo camarotes construídos e armados com tamanha qualidade de serviços oferecidos. Isso faz com que as pessoas continuem vindo a Salvador, continuem tornando o destino favorável, consumindo aqui, se hospedando aqui, gastando dinheiro aqui.
BN: Você vislumbra algum outro camarote no nível do que vocês projetaram para se tornar o Camarote Club?
NA: ah, temos bons camarotes. Temos o Villa Mix, o Camarote Harém, o do Nana, Skol... Cada um com seu estilo, com sua necessidade.
BN: mas com essa segmentação e esse conceito, me parece que só o Camarote Salvador...
NA: nessa segmentação é. O Salvador tem um padrão muito bom, com mais de 15 anos, com nome consolidado, já fala diretamente com seu público. Nós estamos começando agora e dando uma nova opção, uma nova maneira de ver o carnaval, de curtir e de brincar, uma alternativa.
BN: com relação à grade de atrações, como fazer para conciliar os interesses de dois grupos empresariais distintos que formam o Camarote Club?
NA: somos grupos distintos, mas com afinidades e com amigos em comum. A gente foi buscando o que um tinha de melhor. Ano passado o Reino tinha Safadão, mantivemos esse ano. O Cerveja & Cia tinha a Timbalada, e nós aproveitamos também esse ano. Então, cada um foi buscando opções para fazer uma grade com o que há de melhor. Ai9dna estamos ajustando, acho que esses dias divulgaremos a última atração da terça-feira, que vai dobrar com Simone & Simaria.
BN: Houve a tentativa de levar Ivete e Durval pra tocar no Camarote Club?
NA: tivemos a tentativa. Eles são parceiros do camarote, mas por conta dos compromissos já existentes no Carnaval, ficou inviável. Durval é um cara que não toca quantitativamente, ele toca qualitativamente. Ele toca três vezes no bloco dele, o Me Abraça, e tá saindo um dia pra tocar em Trancoso. E Ivete, da mesma forma, tem uma agenda complicada e vai ser homenageada por uma escola de samba do Rio de Janeiro. Mas quem sabe nas próximas edições tenhamos um encontro de Durval com Ivete. Eles vão passar esse ano, vão ver o camarote e vão ter vontade de tocar. Na verdade eles já demonstraram vontade e interesse. Esse ano não aconteceu por conta da agenda, mas vamos tentar nos próximos anos.
BN: considerando a crise dos blocos e no Carnaval, além das notícias que saíram na imprensa sobre cancelamento de desfiles, o que você propõe, fazer uma festa dentro da festa, não seria justamente o motivo das reclamações dos empresários de blocos com relação ao esvaziamento das ruas?
NA: o que está esvaziando o Carnaval das ruas não são os camarotes, nem as atrações que têm dentro. Isso vem de uma série de serviços mal qualificados. A questão dos seguranças, cordeiros, são serviços ruins de manter. Os blocos já propuseram licitar outras áreas da cidade para fazer blocódrogmos, como acontece em Fortaleza e em Natal, para se viabilizar a melhor forma de tratar um bloco. O camarote é um serviço que as pessoas precisam ter, porque tem muita gente que curte Carnaval, que tem mais de 40 anos, e não querem sair no chão. E por que não oferecer esse serviço? Se isso acontece, as pessoas deixam de voltar a Salvador, de pagar hotel, o camarote, de gastar no restaurante. O destino do Carnaval de Salvador tem que ser olhado como um todo, e não individualizado como o carnaval do bloco, ou do camarote, ou do afoxé, ou do pipoca, ou do afoxé.
BN: você tem quanto tempo de Carnaval?
NA: rapaz, eu tenho 30 anos, desde o começo do Asa de Águia.
BN: então, considerando toda sua experiência, onde começaram os problemas que ocasionaram nessa crise dos blocos de Carnaval?
NA: eu acho que o que culminou tudo isso aconteceu há uns oito anos atrás, quando o poder público não licitou. Os circuitos ficaram pequenos, a quantidade de blocos cresceu, cada bloco com cinco ou seis mil pessoas, tudo muito apertado e um serviço muito mal prestado à população. Com isso não houve possibilidade de avançar para outras áreas. 
BN: um circuito indoor seria a solução?
NA: não um circuito indoor, mas como é feito em Natal e Fortaleza onde eles fecham um espaço, tiram as cordas, a pipoca entra, brinca, assiste da mesma forma que aqui. Então, não existe a corda, as brigas diminuem.
BN: nesse modelo, o que separa o folião que pagou do que não pagou?
NA: a grade. Mas isso não é pra ser feito nos circuitos atuais, que devem continuar existindo. O que eu falo é da proposta de uma outra vertente, um outro formato. Acredito que com os cordeiros e toda a atual estrutura, afugenta o empresário. Eu conheço locais que funcionam assim onde as pessoas curtem nesses espaços, é um blocódromo, bem parecido com o sambódromo. O princípio é o mesmo, não estamos inventando absolutamente nada. 
BN: a dificuldade de implantar isso parte do poder público ou do empresariado?
NA: o empresariado já sinalizou algumas vezes ao poder público que se licitasse esses espaços, para fazer núcleos, polos de carnaval. O próprio Carlinhos Brown já quis fazer o Afródromo. Talvez se há cinco anos o poder público viabilizasse o Afródromo, talvez tivéssemos um espaço maravilhoso. Já teríamos patrocinadores pra isso, os blocos afro estariam desfilando em lugares maravilhosos. Ou seja, Brown, um ícone, o idealizador da Timbalada, um gênio, não vai sair no Carnaval, porque lá atrás, quando ele pediu ao poder público para viabilizar um projeto, não conseguiu. Temos o Carnaval cultural, o Carnaval político, o Carnaval econômico, e nós temos que tentar juntar sincronizar de uma forma harmoniosa. É difícil, mas dá pra fazer. Hoje vemos um enxugamento dos blocos e os camarotes ainda mantêm um serviço supre a necessidade das pessoas que iam pro bloco. Tá acabando os blocos, mas isso é muito ruim, pois o camarote só existe por causa das atrações que passam nos blocos. Se acabam os desfiles, as coisas tendem a diminuir para os camarotes e aí perde todo mundo, perde a economia do Carnaval. Enquanto isso a gente vê o carnaval de outras cidades se expandindo, e a gente deu uma travada. Então, voltando a minha primeira resposta, acho que houve um travamento lá atrás com muito “isso não pode”, e isso engessou o Carnaval de Salvador. A prefeitura e o governo não têm que pagar nada, mas têm que dar a estrutura básica, como limpeza, segurança, transporte. Antigamente os empresários pagavam pelas atrações, e agora se inverteram os valores. O Carnaval tomou um rumo preocupante para todo mundo.
BN: Tem jeito?
NA: tem, tem jeito. Somos empresários capazes. Existe uma indústria de empresariado do entretenimento muito interessante e com boas ideias. O que precisamos é sentar pra conversar para que montemos uma estratégia de saída, para que não se perca o destino do Carnaval de Salvador.
Fotos: Gilberto Júnior // Bocão News

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