Eleições

Isidório relata abuso na infância e diz já ter sido ameaçado de morte por Neto

Publicado em 16/09/2016, às 00h00   Redação


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Por Aparecido Silva e Cíntia Kelly Fotos: Gilberto Júnior//Bocão News

O deputado estadual Sargento Isidório disputa a prefeitura de Salvador pelo PDT e pontua em terceiro nas pesquisas divulgadas até o momento. Em entrevista ao Bocão News, o prefeiturável diz que cidade não é tratada de forma igual pelo atual prefeito ACM Neto (DEM). “Quando você chega nos locais principais, é limpo, mas quando vai para as periferias, é lixo jogado em tudo que é canto”, constatou.

O pedetista também contou que o apelido de doido veio do próprio prefeito ACM Neto e disse que o democrata chegou a fazer ameaça de morte. “Em 2012, quem me chamou de doido é quem vai ter que explicar. Eram três senadores. Estava o velho já falecido, o Paulo Souto, o Cesar Borges, estava o Imbassahy prefeito, a cúpula dos partidos perversos. Foi quando o atual gestor me chamou de doido e disse que eu era um palhaço: ‘meu avô vai lhe jogar na cova dos leões’. Isso foi uma ameaça de morte”, acusou.

Ainda na entrevista, o pedetista lembrou momentos da sua infância quando diz ter sido abusado por um parente da sua mãe e explicou que isso teria dado início às suas experiências homoafetivas, embora diga que hoje seja um ex-gay. “Eu tinha uns sete, oito, nove anos de idade quando fui abusado. Doi dizer, então é ruim eu dizer a maneira como eu me superei. Eu vivia em Periperi e dentro do meu quarto dormia um rapaz do Exército, primo da minha, mãe, um tal de Uilson. Esse Uilson me tirava da beliche e me botava embaixo, na cama dele. Ficava me alisando, botando minha mão nas partes íntimas dele. Hoje eu sei que é pedofilia. Tudo começou a partir daí”, recordou.

Polêmico pelo estilo conservador ao tratar questões como gênero e sexualidade, o candidato diz que tratará a todos de forma igual em sua eventual gestão. “Ninguém vai tratar gay ou lésbica melhor do que eu, porque eu sei o que é sofrimento”, prometeu.


Confira a entrevista na íntegra:

Bocão News - Candidato, sem o financiamento empresarial de campanha, como o senhor tem articulado para levantar recursos nesta eleição? No site do TRE consta que existe doação própria e de alguns familiares.

Sargento Isidório - Graças a Deus que acabou com essa desgraça de dinheiro legal. Porque o ilegal é o que mais tem. Só em acabar o legal já me ajuda demais. Eu nunca tive dinheiro para campanha nem legal e nem ilegal. O dinheiro é meu mesmo, de minha família. Até aos filhos meus, eu digo assim: se tem de ter alguém para dar alguma coisa, pegue aí dois mil. A legislação parece que é feita mesmo para enganar as pessoas. Eu faço campanha dançando, cantando, pulando. Salvador é uma cidade cultural. Vai ter um prefeito cantor, eu que canto meu jingle, um prefeito que dança. Então, foi bom acabar com essa dinheirama. Eu não vou ter nada.

BNews - O PDT já sinalizou que vai doar para sua campanha?

SI - Já doou. Botaram R$ 50 mil. Eu até brinquei com o presidente: de onde é que vocês tiraram esse dinheiro todo?

BNews - Deputado, o senhor se intitula doido. Como é que o cidadão de Salvador vai votar em um doido? O senhor acha que esse mote seu é bacana? Isso pode servir para as coisas que faz lá na Assembleia Legislativa. Quer dizer, o cidadão de Salvador vai depositar sua vida na mão de um doido?

SI - Você colocaria um doido em seu estúdio?

BNews - O senhor se autointitula doido...

SI - Em 2012, quem me chamou de doido é quem vai ter que explicar. Eram três senadores. Estava o velho já falecido, o Paulo Souto, o Cesar Borges, estava o Imbassahy prefeito, a cúpula dos partidos perversos. Foi quando o atual gestor me chamou de doido e disse que eu era um palhaço: ‘meu avô vai lhe jogar na cova dos leões’. Isso foi uma ameaça de morte. Em seguida, eu estava sendo jogado numa escadaria no Corpo de Bombeiro, onde estava lá sete dias golfando sangue pelo coronel Adelso numa ditadura do governo carlista. Depois, fui para o Jaar Andrade, internado na UTI morrendo. Resultado, naquela eleição, eu tive 20 mil votos dentro de Candeias e o candidato dele teve 8 mil. Depois, prendeu meu carro aqui em Salvador, em Cajazeiras, dizendo que era reduto deles, por ordem superior. E o que aconteceu? O povo de Salvador me deu a honra de ser o deputado mais votado, mesmo sabendo que sou chamado de doido.

BNews - O senhor gostou de ser chamado de doido?

SI - Eu tive de dar um jeito, eu não tenho dinheiro. Tem que ser na criatividade. Por isso que vou ser um bom prefeito, porque sei fazer muito mais com menos.

BNews - O senhor sempre fala na sua fundação. Tem pouco tempo de TV e constantemente recorre à fundação. Salvador é uma cidade muito maior do que uma fundação, seja ela qual for. Os problemas são muito maiores.

SI - Você quer que eu mostre o quê? Eu não sou prefeito.

BNews - É só isso que o senhor tem para mostrar?

SI - O prefeito de Salvador está mostrando a casa dele? Está mostrando a prefeitura, que é sua, minha, de todos nós. Faz com dinheiro público, com recursos dos impostos, as multas perversas, IPTU escorchante no povo. Pode ver que ele quer permanecer prefeito mostrando o que é do povo. Ele queria fazer o quê? Sucedeu um prefeito que não fez zorra nenhuma, que bagunçou a cidade toda. Eu só posso ser julgado se um dia eu for prefeito, eu estou dizendo sobre o que eu administro.

BNews - Mas não poderia contrapor dados da prefeitura? Neto fala em construção de creches, melhorias na saúde. O senhor não vai fazer um contraponto?

SI - Claro que eu vou. As pessoas estão vendo a maquiagem em tudo quanto é canto. Você passa nos corredores de ônibus, as pracinhas estão todas lá, com equipamentos de educação física, isso é bom. Mas quando você entra nas ruas, nos guetos, não tem nada. Quando você chega nos locais principais, é limpo, mas quando vai para as periferias, é lixo jogado em tudo que é canto. Onde eu estive no Subúrbio, os postos médicos tudo passado cadeado. Aquelas quadras pintadas, bonitinhas, mas tudo de cadeado. Não tenho outra maneira de mostrar o que administro, se não for mostrando que administro pessoas difíceis.

BNews - Candidato, ainda falando sobre a gestão de ACM Neto, ele conseguiu aprovar nesse ano dois projetos relacionados ao desenvolvimento urbano da cidade. Foram o PDDU e a Louos. O senhor concorda com que foi aprovado nestas matérias?

SI - Colocarei em discussão novamente. Inclusive, nós temos membros do Ministério Público que não concordou e não concorda com a maneira. Nós temos privilégios para os grupos, sempre os de cima, sempre os ricos no privilégio. Enquanto o povo carente não está sendo privilegiado. Aquela história de reunião botando lá funcionários de prefeitura para encher lá a Câmara só para dizer amém. Não. Discussão de Louos tem que ser dentro dos bairros, conversando com dona Maria, seu João. Eu vou manter aquilo que estiver bom e vou rediscutir Salvador com os donos, que é o povo.

BNews - O prefeito tem sido criticado pela política de arrecadação adotada envolvendo IPTU, ITIV, entre outros impostos. Como avalia a gestão tributária da administração atual?

SI - Eu chamo de uma administração parecendo que está administrando a casa dele. Privado. Você não pode estacionar carro, porque quando você sai da missa ou do culto, seu carro já foi guinchado. Imagine, está um inferno. Eu estou comparando a uma máfia. Você está vendo aí é empresário se aproveitando do ímpeto do riquinho e botando para lascar em multa, é guincho. É tanta coisa, e o Código de Trânsito Brasileiro não foi feito para punir, extorquir, para roubar as pessoas. O IPTU é escorchante para determinadas pessoas.

BNews - O senhor fala com muito entusiasmo da Fundação Doutor Jesus, que é mantida também com recursos do governo estadual. Foi noticiado que, por ano, o repasse chega a R$ 12 milhões. E quando essa fonte secar?

SI - A Fundação Doutor Jesus existe de 1991. De Wagner para cá, com Rui, é que a gente recebe apoio.

BNews - E foi aí que a fundação começou a aparecer também...

SI - Eu estou eleito deputado. Não esqueça que eu sou um deputado laranja. Não tenho sapato de deputado, não tenho roupa de deputado. Tudo que eu tenho é simples para sobrar dinheiro para sobrar. Inauguramos agora o terceiro prédio, portanto estamos capacitados para até 1,8 mil pessoas.

BNews - E se não tivesse o dinheiro do governo do estado?

SI - Não. Isso foi com dinheiro nosso. Dinheiro familiar. Eu sou mestre de obras. Não tem dinheiro do estado nas construções. O único prédio que tem dinheiro do estado não está terminado. A empresa lá não terminou. Tudo foi construído com recursos nossos. Não entra 12 milhões de reais do estado. Para você ter uma ideia, o convênio começou em setembro do ano passado e eu vim receber uma parcela de 2,1 milhões em janeiro. A outra era para ser em abril, vim receber em julho que foi 2,9 milhões. Em agosto, eu teria que receber uma outra parcela. Já fui informado, porque o governador chamou lá, na crise, de que não vai ter recurso. Não vamos achar que o tempo todo o estado poderá ajudar. A ajuda que eu tenho é para 500 pessoas e lá temos 1,2 mil pessoas vivendo com dignidade. Você não vai ver um interno meu na rua pedindo ou vendendo nada. Já falei que, se tiver alguém aí em ônibus pedindo coisa para a fundação, pode prender, porque é estelionatário.

BNews - O senhor desenvolveu um trabalho visto como sério ao longo dos últimos anos. Aí vem um outro Isidório dizendo que é ex-gay, ex-drogado, ex-aidético, grava vídeo ao lado da mãe dizendo que agradece por ela ter gostado de homem. O seu trabalho bacana na fundação fica prejudicado por essa outra imagem que o senhor mostra?

SI - Não.

BNews - Ex-gay não existe, deputado...

SI - Você diz porque não conhece o poder de Deus.

BNews - O senhor namorou quantos homens?

SI - Vários.

BNews - A partir de que idade o senhor descobriu a homossexualidade?

SI - Eu tinha uns sete, oito, nove anos de idade quando fui abusado. Doi dizer, então é ruim eu dizer a maneira como eu me superei. Eu vivia em Periperi e dentro do meu quarto dormia um rapaz do Exército, primo da minha, mãe, um tal de Uilson. Esse Uilson me tirava da beliche e me botava embaixo, na cama dele. Ficava me alisando, botando minha mão nas partes íntimas dele. Hoje eu sei que é pedofilia. Tudo começou a partir daí.

BNews - Em nenhum momento o senhor contou para a sua mãe que estava sendo abusado por esse rapaz?

SI - Para apanhar? Minha mãe me batia de correia de máquina.

BNews - Por quanto tempo o senhor foi abusado?

SI - Não dá para lembrar, foi durante o tempo que ele ficou em casa. Era uma pessoa da minha mãe e ficou lá acho que uns três anos.

BNews - Deputado, recentemente o senhor esteve envolvido numa polêmica por ter colocado em seu gabinete a ex-mulher do seu candidato à vice, Rose Bassuma. O senhor chegou a falar que foi porque Luiz Bassuma ficou sem emprego. Então, pode fazer caridade com um dinheiro que não é seu?

SI - Eu não estou fazendo caridade. Rose Bassuma, a doutora, ela é que vai cuidar das questões das creches. Ela tinha creches aqui no Nordeste de Amaralina. O Bassuma sempre fez esse trabalho de creches. Então é daí que vem a nossa ligação. Essa Rose é quem está me dando estrutura já adiantadamente, procurando onde tem a possibilidade de se ampliar creche, o que vai fazer com as que tem. Nessa área, vamos ter que bulir, e bulir muito.

BNews - Recentemente, o senhor esteve envolvido em uma polêmica por ser contrário à inserção dos termos gênero e sexualidade no Plano Estadual de Educação. Estes assuntos seriam tratados nas salas de aula. Por que não tratar desses temas no ambiente escolar?

SI - Escola não é cabaré. Não é brega. Criança de seis anos não poder ter aula de sexo. Meninos e meninas com essa faixa etária não estão preparadas mentalmente para tratar de sexo. Sexo, você pode até botar na faculdade, numa escola mais adiantada, onde os jovens estarão com idade mais avançada. Agora, vim para dentro dizer com um menino que ele não é menino, e ele pergunta, ‘eu faço o que com a binga? Vai cortar’. Pelo amor de Deus. Não posso priorizar esse debate. Agora mesmo eu estou com um problema. Meu plano de governo, o capítulo de LGBT estava ampliado. A menina que me ajudou carregou a mão, mas eu tenho tanto assunto prioritário, senão vou gastar um capítulo inteiro só dando direito a quem já tem. Eu estou mandando abolir tudo que está lá no meu programa de governo.

BNews - O que consta lá e que será retirado?

SI - É tanta coisa, é transexual, bissexual, quadrissexual, é tanta coisa que nunca nem vi falar. Estou mandando acabar com isso. É uma obrigação minha garantir todos os direitos constitucionais aos indivíduos que tem a questão da homoafetividade. Estamos dando a eles o direito de garantia sem discriminação, sem homofobia, sem todo tipo de intolerância, respeitando eles como os demais cidadãos são respeitados. Não podemos admitir violência contra ninguém. Agora, não podemos criar semideus. Eu não vou fazer apologia ao homossexualismo e às drogas de forma nenhuma.

BNews - Se eleito, o senhor colocará um secretário gay ou uma secretária lésbica?

SI - É só ter competência. Ninguém vai tratar gay ou lésbica melhor do que eu, porque eu sei o que é sofrimento.

BNews - O senhor é sargento na Polícia Militar, acha que a Guarda Municipal de Salvador deve usar arma?

SI - Sou a favor, mas tem que melhorar o treinamento. Tem que capacitar, colocar eles na vila militar para treinar tiro. Usou farda, é polícia. O pessoal da Transalvador é polícia. Se você multa alguém, está correndo risco. Ou você pensa que o cidadão ali sendo multado, vendo ir mais 500 reais, não pode dar uma crise? Outro dia mesmo eu vi um motorista indo para cima do fiscal e foi um acabamento. Não pode entregar arma a qualquer um. Se eu for prefeito, não vou deixar a Guarda Municipal cuidando de boneco. Temos muita coisa para colocar guardas municipais. Então, a guarda será otimizada.

BNews - Em relação ao aplicativo Uber, o senhor é contra ou a favor do funcionamento na cidade?

SI - Eu estou sentindo que essa situação do Uber precisa ter o debate ampliado, discutir com mais gente. Você não pode prejudicar os taxistas, que pagam imposto. A maioria dos taxistas são empregados. Se eu chegar na prefeitura, vou procurar o Ministério Público para suspender essas concessões e abrir licitação para que outros pais de família possam ter oportunidade. E na questão do Uber, temos que tratar com a população para saber. A sociedade é quem paga imposto, é quem tem de opinar e participar ativamente. Agora, está dando queimado, água, refrigerante, lanche. E depois que conseguir o que quer? Para entrar no comércio, você faz uma gracinha, faz afago, depois que você está dentro... Isso é natural do ser humano.

BNews - O senhor, assim como Alice Portugal e Cláudio Silva, é um candidato da base do governador Rui Costa. Até então, ele não aparece muito na sua campanha. Algum ciúme por ele participar da propaganda de Alice?

SI - Agora eu compreendo que ele foi um instrumento de Deus na minha vida e de Salvador. Eu que chamei ele de goverfeito pelo carinho que ele tem por Salvador, pelas cidades, pelo estado. Rui Costa, quando me convenceu a não disputar por outra cidade, eu sou deputado mais votado em várias cidades, vai lá e inteligentemente me chama para disputar em Salvador. Ele não me deve nada, só de me dar a oportunidade de estar aqui, conseguir me colocar em um partido para manter minha candidatura é para a gente fazer o debate. Eu não posso ficar com ciúme disso. Ele foi para minha convenção. Se tem alguém que só é candidato porque o governador quis, é a minha. Eu não pedi.

Classificação Indicativa: Livre

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