Política

É um artificio de quem não tem o que falar, diz Neto sobre alcunha de golpista

Publicado em 04/09/2016, às 00h00   Redação


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Por: Luiz Fernando Lima e Cíntia Kelly - Fotos: Gilberto Junior/Bocão News

Ao tentar a reeleição de prefeito de Salvador, ACM Neto, por ora, voa em céu de brigadeiro. Disparado nas pesquisas de intenção de voto, o demista se vê as voltas com a pecha de golpista, cunhada pela oposição e pela candidata Alice Portugal (PCdoB), pro ter se colocado ao lado do impeachment da presidente Dilma Rousseff, e rechaça com veemência. “Se eles tivessem consistência no debate e na crítica sobre Salvador, certamente, não recorreriam a isso. Este é um artificio de quem não tem o que falar sobre a cidade”.

Em entrevista ao Bocão News dentro da série com prefeituráveis, ACM Neto dá de ombros às críticas da oposição, sobretudo quando é acusado de priorizar as áreas mais ricas e detrimento das mais pobres da cidade. “Queixa e crítica de adversário eu recebo como provocação política em véspera de eleição. O que quero saber é a opinião da população que avalia a prefeitura de Salvador como a melhor administração do Brasil”.
Neto falou ainda sobre a proibição do Uber, a judicialização do IPTU, e reconhece que ainda existem áreas em que salvador precisa avançar. Confira a entrevista na íntegra:

BNews - Campanha de tiro curto. Primeira campanha sem financiamento empresarial.  Há sinais claros de que haverá mudanças para a próxima.

ACM Neto - Vou separar a resposta em dois planos. Sem dúvida alguma quem tem boa avaliação administrativa tem grande vantagem num processo de reeleição. Não interessa se com estas ou com outras regras. Tanto que quando eu assumi a prefeitura eu estabeleci como premissa para minha equipe de trabalho que não nos preocupássemos com calendário eleitoral. Nos preocuparemos com trabalho. A eleição seria consequência do trabalho feito. O sistema de reeleição no Brasil, de uma maneira geral, favorece a pessoa que tem um bom trabalho e uma boa avaliação. Este é um plano de resposta. O outro, é que estamos numa campanha com novidades. Sem dúvidas nenhuma é uma campanha bem diferente porque é mais curta e com muito menos recursos. Eu, honestamente, acho positiva esta mudança. Veja que a cidade está bem mais limpa. Não temos aquela poluição visual que tínhamos com muros, placas, mesmo a poluição sonora dos carros de som diminuiu bastante por causa dos recursos a disposição das diversas candidaturas. É uma campanha do corpo-a-corpo, das redes sociais e é uma campanha cujo principal elemento de convicção está, sem dúvida nenhuma, na TV e no rádio. Acho que estas mudanças foram positivas. A campanha mais barata é boa para todo mundo. Acho, no entanto, que ainda é cedo para dizer quais serão estas mudanças. A gente precisa cumprir o ritual, encerrar a eleição no Brasil todo. Ver o que deu certo, ver o que deu errado e ai sim fazer um debate amplo, que vai acontecer no Congresso Nacional, para eventuais ajustes.

BNews - A presidente Dilma Rousseff foi cassada na última semana. A sua adversária Alice Portugal (PCdoB) lhe acusa de ser “golpista”. O senhor participou deste processo? Pergunto isso porque o senhor tem uma influência gigante, seja junto aos ‘democratas’, seja ao PMDB. Qual foi a sua participação neste processo? O senhor chegou a mobilizar quem?

ACM Neto - Eu procurei ter todo cuidado e ninguém ouviu da minha boca nenhuma manifestação a favor ou contra o impeachment até o dia em que o Congresso Nacional resolveu afastar a presidente da República. Eu não o fazia para preservar a minha relação institucional. Eu tive uma relação institucional com a presidente Dilma, não posso dizer que foi uma relação que surtiu muitos resultados ou que tenha dado frutos para Salvador, pelo contrário, a gente foi alvo de muitas promessas e quase não saiu do papel. O BRT talvez seja o projeto mais simbólico que expressa isso. Essa enrolação que aconteceu com a cidade do Salvador, no entanto, eu procurei me preservar do ponto de vista institucional enquanto prefeito. A posição do meu partido era amplamente conhecida desde o início do processo. Era uma posição unânime que foi decidida pela Executiva nacional e acompanhada integralmente pelas bancadas na Câmara e no Senado. Ninguém esperava diferente do Democratas que teve coragem de fazer oposição ao PT desde o primeiro instante. Dai a quererem colocar a pecha ou recorrer a apelidos de mau gosto é outra história. Na minha opinião acho que é a falta de argumentos. Esta tentativa de nos ligar aos movimentos de Brasília é a falta de ter o que falar sobre Salvador. Falta de ter o que falar de um governo que é altamente reconhecido pela população. Então, se eles tivessem consistência no debate e na crítica sobre Salvador, certamente, não recorreriam a isso. Este é um artificio de quem não tem o que falar sobre a cidade.

BNews - Prefeito, o senhor está isolado nas pesquisas (68% no último levantamento). Por que processar Alice Portugal por ela usar a palavra golpista na propaganda. O senhor acredita que isso possa minar a sua campanha?

ACM Neto - De maneira nenhuma. Existe uma regra, estabelecida na lei, que deve ser seguida na Justiça Eleitoral como vem sendo seguida e que deve ser seguida pelos candidatos e simplesmente a candidata comunista não vem respeitando. Nós temos recorrido à Justiça apenas para respeitar o que está na Lei. Eu respeito o que está na Lei. Minha campanha é limpa, propositiva. Ninguém está me vendo na televisão atacar ninguém, ofender ninguém. Trazer palavras inadequadas a respeito da honorabilidade de ninguém. Estou seguindo a risca o que está na lei e é natural que eu recorra a Justiça para que meus adversários, independentemente de percentual de pesquisa, também sejam obrigados a cumprir o que está na Lei. Apenas isso.

BNews - O senhor tem sido acusado com relação a maquiar a cidade. Gastou bastante dinheiro na recuperação da orla com destaque para Barra e Rio Vermelho, embora também tenha feito a requalificação de praias no Subúrbio Ferroviário e Ribeira. Neste sentido, gostaríamos de saber se estas eram obras necessárias prioritariamente e se o dinheiro gasto foi demais?

ACM Neto - Eram obras extremamente necessárias e eu as faria todas novamente. Vale lembrar que há quatro anos, nas eleições de 2012, Salvador era apontada como uma cidade que tinha uma das orlas mais feias, mais mal cuidadas, mais mal conservadas do Brasil. Isso era apontado por todo nosso setor econômico como um dos entraves para o desenvolvimento do turismo em nossa cidade que é, sem dúvida nenhuma, a principal fonte econômica de Salvador. Nós nos comprometemos em 2012 em enfrentar este problema. Eu cumpri uma promessa que fiz na campanha eleitoral de requalificação da orla. Tudo feito com recursos próprios da prefeitura. Sem ajuda de absolutamente ninguém. O que incomoda os meus adversários é que nós tivemos recursos para recuperar 13 trechos de orla de São Thomé de Paripe até Itapuã. Nós mudamos a cara de Salvador e ainda assim nós investimos como nunca no social, nas áreas mais pobres. Em quatro anos nós colocamos na Saúde a mais R$500 milhões. Hoje, em 2016, são aplicados R$500 milhões a mais do que foram aplicados 2012 na saúde pública, comprometendo quase 20% do orçamento o que era apenas 15%. na Educação nós estamos chegando a 28% do orçamento. O que era no passado menos de 23%. Por ano a mais estamos colocando mais R$100 milhões do que era obrigação minha colocar. 76% dos recursos da prefeitura estão aplicados nas áreas mais pobres e nós tocamos obras estruturantes, como por exemplo, a ligação Cajazeiras/Valéria/BR-324 que custou R$60 milhões, foi a obra mais cara realizada pela prefeitura, mais cara que a Barra, mais cara o Rio Vermelho, com recursos próprios do município. Fizemos a nova Avenida Suburbana onde foram aplicados quase R$50 milhões, que é mais do que foi aplicado no Rio Vermelho com recursos próprios. O que incomoda os meus adversários é que nós organizamos as contas do município e tivemos recursos para aplicar em todas as áreas. Inclusive, a requalificação da orla, que eu quero lembrar, chegou a ser prometida pelo PT da Bahia. Disseram que iam aplicar R$300 milhões na requalificação da orla, que trariam este dinheiro de Brasília, e que até hoje a gente aguarda para ver.

BNews - A ciclovia na Avenida Suburbana é apontado como um problema sério, o senhor pensa em refazê-la?

ACM Neto - De maneira nenhuma. Ela foi alvo de estudos. Nós não fazemos nenhum projeto que não seja devidamente estudado. Foi feito pela Transalvador que se amparou em estudos técnicos externos para sua implementação, desenho e dimensão. Ela não traz nenhum risco à segurança, ao contrário, a Avenida Suburbana ficou mais segura porque, inclusive, nós colocamos lombadas que não existiam ali, controlando a velocidade máxima. Fizemos intervenções que foram decisivas não só para melhorar a trafegabilidade mas também para melhorar a segurança. O projeto está perfeitamente adequado e não teríamos inaugurado a avenida se assim não fosse.

BNews - A ciclovia é alvo de críticas e o senhor disse que não vai mudar. A Barra também é alvo de críticas e o senhor também diz que não vai mudar, o senhor não acha que o senhor é um pouco intransigente? Não pensa um pouco em ceder, em analisar se houve alguma falha?

ACM Neto - Primeiro que a marca do meu governo foi ouvir as pessoas. Este é um legado que a gente deixa para a população. Ter mudado a relação da prefeitura com o cidadão. Nunca o cidadão foi tão ouvido na nossa cidade. Seja pelo programa Ouvindo Nosso Bairro, pelo Salvador Bairro a Bairro, no qual foram feitas mais de mil intervenções aos 163 bairros de Salvador. O gabinete Prefeitura em Ação, das prefeitura-bairros. Uma marca do nosso governo é ouvir a comunidade. Ponto dois: críticas existem de um lado e elogios não faltam do outro. Existe uma parcela minoritária que faz críticas ao projeto e outra parcela amplamente maioritária que elogia, aplaude, o projeto. Eu recebi algumas vezes na prefeitura associação de moradores, comerciantes, trabalhadores da Barra e é impressionante porque fazemos a reunião que tem uma pauta e de dez pontos colocados dois ou três tem convergência e consenso os outros oito ou sete são objetos de divergências e dissenso. Uma parcela pensa de uma forma e outra, de outra. Nós introduzimos na nova orla de Salvador um conceito novo em que a prioridade deixou de ser o automóvel e o ônibus, a prioridade passou a ser o pedestre e as pessoas que usufruem da cidade. Nós tínhamos um compromisso de devolver a cidade ao cidadão. Quem se lembra da fotografia da Barra do passado vai lembrar que ela era cercada de carros de um lado e do outro. As pessoas não podiam fazer exercício, as famílias não frequentavam, ela não tinha uma vida própria. Alguns estabelecimentos comerciais fecharam, é verdade. E nada tem a ver com a obra tem a ver com a crise econômica porque fecharam estabelecimentos em todas as regiões de Salvador, não foi apenas da Barra. Fala-se da Barra porque fizemos a reforma. Abertos a sugestões nós sempre estivemos e continuaremos desde que sejam construtivas, fizemos ajustes na Barra no que se refere trânsito, desapropriamos terrenos para garantir estacionamento. Fizemos uma série de ajustes a partir do diálogo com trabalhadores, empresários, moradores. Agora, agradar a todos de uma só vez é humanamente impossível. Eu tenho que me posicionar ao lado da maioria.

BNews: Essa maioria foi identificada de que forma, primeiro ponto. Segundo, há queixas de que o senhor não ouve os conselhos?

ACM Neto: Queixa de quem?

BNews: Da oposição, de Alice Portugal?

ACM Neto: Aí não vale, queixa e crítica de adversário eu recebo como provocação política em véspera de eleição. O que quero saber é a opinião da população que avalia a prefeitura de Salvador como a melhor administração do Brasil. Segundo ponto, a gente observa a maioria com pesquisas internas, administrativas, específicas com relação a Barra. Quando a gente senta pessoalmente diretamente com os empresários, trabalhadores, moradores você consegue extrair o sentimento da maioria. Eu não teria nenhuma razão, nem motivo, ou qualquer capricho para dizer que “eu quero dessa forma”. Eu não sou burro, pelo contrário, se tem uma coisa que as pessoas sabem é a minha sensibilidade para tomar corretamente decisões políticas. Agora, o que vem de adversários eu relativizo porque faz parte do enfrentamento eleitoral e não é isso que vai mudar o meu eixo de decisão.

BNews - Meia passagem aos domingos foi uma das primeiras medidas da sua gestão. Há inúmeras críticas de que dizem “meia passagem meia frota”, houve a redução?

ACM Neto - A frota de domingo nunca foi reduzida. Não é verdade que tenha sido retirado algum ônibus. A frota  de domingo sempre foi reduzida. Depois que nós implementamos o domingo é meia não houve a retirada de nenhum ônibus da cidade, isso não é verdade.

BNews- Mas havia uma expectativa da melhora dos ônibus. Não é isso que a gente ouve.

ACM Neto - Eu tenho pesquisa que mostra que houve a melhora significativa. Vou elencar aqui o que nós fizemos e espero que esteja na entrevista: renovação da frota – Salvador é a cidade que teve a maior renovação da frota do Brasil; todos ônibus controlados por GPS; câmara em todos os ônibus – hoje você vai na sede da secretária de Mobilidade e vê o CCO que é o nosso centro de controle e sabe onde está cada ônibus em nossa cidade e exige pontualidade por parte das empresas; cumprimento de horário – melhorou muito o cumprimento de horário, rotas e paradas em pontos; temos o CittaMobi que é um aplicativo utilizado hoje por 750 mil usuários de transporte público na cidade de Salvador; temos NOA que é nosso núcleo que faz todo o controle da rede  de trânsito da cidade tendo impacto direto no transporte público; fizemos mais de 700 abrigos de ônibus; Estação da Lapa era um chiqueiro e hoje é uma estação digna para a cidade; implantamos o domingo é meia e o bilhete único; garantimos a integração do transporte público. Isso para citar algumas das intervenções que fizemos. Eu quero que você me diga qual foi a administração que avançou tanto em tecnologia, melhoria de serviço, qualidade para o cidadão como nós fizemos. Ora, os problemas de transporte estão resolvidos? Não estão. Temos muitos problemas de transporte público é claro, mas se melhorou ou não, não tenho dúvida que melhorou e, inclusive, tenho pesquisa que pode mostrar isso.

BNews - Há uma judicialização também em relação a IPTU e ITIV, o senhor acredita que PDDU e Louos também terão e é normal isso acontecer?

ACM Neto - Normal. IPTU nós vencemos a batalha da judicialização. No caso do ITIV, o Tribunal de Justiça ainda vai se posicionar, porém, independentemente do resultado já existe uma compreensão do Supremo Tribunal Federal que dá ganho de causa à tese da prefeitura. Com relação ao PDDU e Louos ainda não vi nenhum movimento mais consistente nesta direção, mas pode acontecer. Nós estamos muito tranquilos com aquilo que foi feito. Foi o processo mais participativo da história de Salvador. Dezenas de audiências públicas foram realizadas. Recepcionamos a contribuição de dezenas de representantes da sociedade, instituições e de organizações não governamentais. O debate foi feito com transparência na Câmara Municipal. Acabamos com aquela coisa do passado que se construía Plano Diretor e Lei de Ordenamento e Uso do Solo no dia da votação por emendas. Os dois foram aprovados sem nenhuma emenda de plenário, portanto, garantindo toda a previsibilidade e transparência. Estou muito seguro. Judicialização pode acontecer. Qualquer promotor ou cidadão pode sugerir a judicialização, mas eu tenho certeza que sairemos vitoriosos.

BNews - Outro edital está para ser lançado que versa sobre o lixo. Perspectiva de 20 anos de concessão e R$7 bilhões. O senhor acredita que este é um melhor modelo, mais responsável e o melhor para cidade?

ACM Neto - Esse é o único modelo que pode garantir investimento de médio e longo prazo. Como se trata de um serviço essencial, eu diria que é o serviço mais importante da cidade. Quais são as duas premissas que a prefeitura vem procurando nesta concessão: um lado garantir economicidade, a gente gasta hoje mais de R$1 milhão por dia com a limpeza urbana de Salvador, ou seja, olhar médio, longo prazo e evitar que esta conta fique impossível de pagar. A tarefa do prefeito tem que ter a capacidade de planejar os próximos anos, este é o primeiro objetivo. O segundo é modernizar o serviço e para isso é preciso ter investimentos. A prefeitura, com recursos próprios, não tem condições de fazer estes investimentos. A concessão vem com estes objetivos. Como aconteceu com a concessão dos serviços de transporte público onde os investimentos surgem do investidor privado. Da mesma forma acontecerá com a limpeza urbana. A licitação só será concluída quando ele estiver maduro e cumprir todos os prazos e ritos. O Ministério Público e o Tribunal de Contas estão acompanhando tudo desde o começo. Tudo sendo feito com muita transparência porque a gente sabe qual é o impacto disso tudo e por isso queremos evitar qualquer problema futuro.

BNews - Prefeito, a vice prefeita acuso o senhor de superfaturar obras depois recuou e disse que não havia falado aquilo. O vereador José Trindade (PSL) acusou também e depois recuou, mas o senhor mantém processos contra estas duas pessoas. A sua capacidade de perdoar é zero?

ACM Neto - Não é, de maneira alguma. Quando a gente tem a honra ofendida, e para mim este é o maior patrimônio que eu tenho, é o meu nome, minha honra e a minha moral, isso para mim é a coisa mais importante que existe. É fácil chegar uma pessoa e ofender a sua honra. Uma semana depois vai lá e diz que não queria dizer isso, mas o estrago está feito. Quando eu vou a Justiça é exatamente para buscar a reparação. Quem faz as coisas direito não deve ter nenhum medo ou receio. Acho que é lamentável que existam pessoas na vida pública que agridam a outra contra a moral e honra e que logo em seguida voltam atrás com medo do desfecho de um processo judicial. Eu quero que a Justiça possa, de fato, reconhecer os absurdos que foram ditos por estas duas figuras públicas e haja esta retratação e ponto. Não quero nada além disso. Eu sou uma pessoa que quem me conhece de fato, os meus amigos dizem que eu tenho um coração muito mole, que eu tenho uma capacidade de esquecer facilmente quem nos atacou, nos agrediu. A política é um pouco assim, você não sabe o dia de amanhã. Então, o que me faz sofrer menos na vida pública é não somatizar, é não guardar raiva e nem ódio. Eu não sou refém desse tipo de coisa. Agora, tudo tem o seu limite. Existem críticas que podem ser duríssimas, que podem ser muito injustas, mas que estão no campo da política, no campo administrativo. Já quando esse campo é ultrapassado para fazer ataques a honra e a moral é preciso ter reparação.

BNews - Prefeito, o senhor foi chamado de traidor por Célia Sacramento por não a ter escolhido para vice. O senhor a traiu de fato? Ela já sabia que não seria? O senhor que ficou quase quatro anos convivendo com ela, ela é uma figura ingênua mesmo como demonstra ser?

ACM Neto - Se Celia fosse uma figura ingênua ela não teria chegado a vice-prefeita de Salvador. Celia teve seus méritos. Ela não é ingênua, nem acho que ela se auto-intitule assim. Eu já tive a oportunidade dizer e vou repetir: não é porque Célia começou a me atacar, a me agredir e a me ofender que eu vou fazer retribuir. Não vou fazer isso. Estou buscando a recuperação na Justiça das injustiças que ela cometeu comigo, mas Célia sabia de todo este processo desde o começo. A primeira conversa que eu tive sobre qualquer perspectiva de 2016 foi com ela em dezembro de 2015. Vejam vocês que eu me mantive distante do debate político-eleitoral por muito tempo. Eu se quer fazia conversas internas. Com ela tive uma quando me disse que queria sair do PV. Eu disse: Célia, não saia do PV. Você sair do PV e ir para um partido de pouca representatividade pode comprometer qualquer perspectiva de se manter na posição de vice-prefeita”. Eu alertei a ela. Veja que no momento em que   ninguém estava tratando do assunto eu dei este conselho. Se ela tivesse ficado no PV, o PV e ela estariam muito mais fortes para pleitear a posição. Não quer dizer que aconteceria, mas quer dizer que a posição seria outra e eu alertei. Neste processo todo, eu conversei primeiro com ela e encerrei as conversas com ela também. Abri uma série de perspectivas de alternativas de projeto político, mas ela era o seguinte: ou é isso (vice) ou não é nada. E não dava para ser assim. Eu não aceitei esse tipo de imposição de nenhum partido. A escolha, por Bruno Reis (PMDB) não foi exclusivamente por minha vontade, foi de uma construção política que resultou no nome dele. Lamentavelmente, por uma questão de causismo ela diz isso. Engraçado, outro dia estava vendo um vídeo em que Célia dizia exatamente que as coisas aconteciam em Salvador porque eu não roubava e nem deixava roubar. Tenho vídeos com ela dizendo que eu era o melhor prefeito do Brasil. Eu prefiro ficar com esta Célia do que com aquela que porque não foi escolhida vice começou a ligar a metralhadora giratória e felizmente já voltou atrás de coisas sérias que falou sem nenhuma fundamentação.

BNews - O senhor acredita em eleição para prefeitura-bairro

ACM Neto - Não. Você transformaria isso em uma disputa política em cada bairro e abriria um flanco muito ruim para gerar dissonância administrativa. A prefeitura-bairro não é um órgão político, ela é um braço da prefeitura dentro do bairro. Aproxima a prefeitura ao morador. Tem que vir casada com o que pensa a gestão. O processo de eleição é para prefeito da cidade. Este sim, escolhido e eleito, deve poder designar coordenadores da prefeitura-bairro, que se quer são chamados de subprefeitos, são coordenadores. São agentes administrativos e comprometidos com a filosofia de gestão. Seria incompatível ter um processo eleitoral que resultasse, inclusive, numa discordância do braço operacional daquilo que pensa a cabeça.

BNews - O senhor mostrou os pontos negativos para as eleições, mas a oposição diz que ali é cabide de emprego, as pessoas para trabalham para ter votos para o senhor.

ACM Neto - Eu tive alguns cuidados. Não tem um ex-vereador. Não posso impedir que a pessoa tenha uma militância partidária. Esqueça. Busquei escolher pessoas que tinham a capacidade de fazer o trabalho. Alguns quadros técnicos que não tem relação política comigo ou meu partido. Outros que tem simpatia partidária, mas não foram indicados pelos partidos. Não há na prefeitura-bairro ninguém indicado nem por partido nem por vereador. Não há ex-candidato a vereador. O que existiam em Salvador eram as Administrações Regionais que não funcionavam, caiam aos pedaços e eu acabei com isso. As prefeituras-bairros atendem a mais de um milhão de pessoas ao ano. É claro que o coordenador da prefeitur-bairro tem que ter algum tipo de sensibilidade política. Ora, ele vai lidar todo dia com lideranças, vai lidar com o que está acontecendo com o bairro no dia a dia. Eu não escolheria ninguém que não tivesse sensibilidade política. Completamente diferente de ser alguém de partido, indicado por partido, de vereador. Isso não existe. Os quadros, todos eles, de A a Z, foram escolhidos pessoalmente por mim. A responsabilidade de todos que coordenam as 10 prefeituras-bairros é de senhor ACM Neto.

BNews - O senhor criticava muito o loteamento do governo federal e o fisiologismo, no entanto, o seu governo tem secretarias divididas entre os partidos.

ACM Neto - Bem diferente. Primeiro, porque antes da eleição eu não submeti e nem me sujeitei a fazer nenhum toipo de acordo. Acho que mostro como é possível ter um equilibrio cujo o resultado é bom para a cidade. Vamos lá: tenho harmonização de partidos com quadros técnicos. O PMDB tem duas figuras que integram o meu primeiro escalão – Fábio Mota e Paulo Fontana. O PV com André Fraga é uma grata revelação na nossa gestão, também quadro técnico. Portanto, todos os quadros são técnicos que conciliam a capacidade de gestão com uma afinidade partidária. Muitos foram escolhidos por mim sem qualquer cota partidária. A maioria do governo tem a característica de não ter vida partidária e os que não tem são técnicos. Outra exemplo é a secretária Rosema Maluf que tem identificação com o PSDB, mas é um quadro técnico. A minha prefeitura nunca foi cabide de emprego.

BNews - Isso não é fisiologismo?

ACM Neto - Claro que não. Porque quem escolhe sou eu. Não existem ilhas no meu governo como aconteceu no passado.

BNews - Paupério foi uma ilha?

ACM Neto - Não. Paupério foi escolhido tecnicamente por mim a partir de pesquisas. Conversei com a Universidade Federal da Bahia. Ouvi pessoas da área de gestão pública em Salvador. Não o conhecia. Não tinha relação com ele e o escolhi pelo seu currículo. Deu problema, mas não com a minha gestão. Tem que ficar claro isso. Paupério teve em minha gestão uma participação importante e sem nenhum problema. Não há nada contra ele na minha gestão. Ele teve problemas passados que depois nós tivemos conhecimento e que está tratando no Ministério Público. Sequer foi condenado. Está se defendendo. Eu não posso fazer nenhum reparo das coisas que acompanhei na minha gestão.

BNews - Prefeito, a gente fez uma pesquisa para ver as suas propostas na campanha de 2012. O senhor propôs a construção de uma maternidade em Salvador e não o fez. Por que que o senhor não fez?

ACM Neto - Nós mudamos o foco e a prioridade. Depois que a gente começa a gestão nos deparamos com aquilo que é mais ou menos importante e vamos ajustando as prioridades. Eu, por exemplo, não propus construir oito UPAS em Salvador e eu construí. Nós entendemos que estas eram mais prioritárias do que a implantação de uma maternidade. Não havia proposta dobrar o atendimento da Saúde da Familia e nós fizemos. Não propus entre reformas, construções fazer mais de 150 unidades de atenção básica em Salvador e isso se mostrou mais importante. A gestão tem isso. Tem coisas que você se compromete e que se mostram não ser tão prioritárias. Dentro da gestão é preciso fazer escolhas. O que não quer dizer que não seja importantíssimo o auxílio a gestante. Agora, no nosso plano de governo há um programa previsto de amparo e apoio ao auxílio a gestante, mas que não passa pela implantação de maternidade. Passa por um acompanhamento direto de atendimento nos nove meses de gestação,

BNews - Anunciar a construção de um hospital a beira da eleição não é algo perigoso? Não pode ser considerado eleitoreiro?

ACM Neto - Não foi anunciado na beira da eleição. Começamos a tratar do hospital desde o início da gestão. Um obra desta complexidade envolveu um ano de estudos, de avaliação técnica, de projeto de definição de orçamento. Depois tivemos um longo processo para conseguir consolidar o terreno. Aquela região era mais central, mas o terreno não era da prefeitura e precisou ser desapropriado. Teve que ser desapropriado judicialmente, tentamos fazer consensual e não foi possível, depois tivemos que recorrer à Justiça e isso envolveu mais tempo. Nós começamos a tratar do hospital no início de 2014, ou seja, no segundo ano de governo. Agora, uma obra deste tamanho e complexidade não acontece da noite pro dia. O inicio da construção começou agora. A obra está a pleno vapor e nós temos uma perspectiva de entregar a obra antes do cronograma. Uma decisão muito arrojada fazer um hospital. Um investimento de 120 milhões de reais hoje com recursos próprios em momento em que o Brasil todo está reduzindo o serviço nós estamos indo para frente fazendo o hospital.

BNews - O senhor falou que Salvador não precisa de Uber? Há de fato uma pressão muito forte dos taxistas para que isto não aconteça?

ACM Neto - Não tenho ligação formal com nenhum empresario de taxi ou com sindicato. Aprovamos um regulamento que tinha mais de 20 anos que ampliou as obrigações e exigências para os taxistas. Se dissesse “tá ali, passando a mão na cabeça”, mas de maneira nenhuma. Agora, quem me conhece sabe que eu não funciona sobre pressão. Acho que os taxistas têm um papel importantíssimo na cidade. A categoria tem o meu reconhecimento profissional, é uma categoria insubstituível para a cidade e do ponto de vista da sua necessidade são imprescindíveis. Exatamente por não funcionar sobre pressão é que o Uber começou errado. Impôs um serviço sem dialogar com o município, sem conversar com a prefeitura. Isso nos fez tomar a decisão de tirar da pauta qualquer possibilidade de regulamentação do Uber neste momento. Exatmente, pela forma como as coisas aconteceram aqui. Acho que, comparada com outras capitais, Salvador está muito mais harmonizada com relação a este assunto. Todo o transporte que funcionar à margem da regulamentação não terá o meu apoio. Em São Paulo foi regulamentado e a prefeitura impôs uma taxa e o serviço ficou mais caro que o táxi. Neste momento não está aberta a pauta de regulamentação do Uber.

BNews - Por ser um momento eleitoral?

ACM Neto - Não, esta é uma decisão que tomei quando começaram. Não tinha eleição no curso. Pessoa pública não tem que estar necessariamente do lado daquilo que é popular. Existem decisões que somos obrigados a tomar que são impopulares. Eu recebo cobranças todos os dias nas minhas redes sociais pelo Uber. Pessoas que são admiradoras do meu trabalho, que apoiam a minha luta e que dizem “poxa, eu não entendo”. Muito bem, é uma decisão que nós tomamos e tem uma razão.

BNews - Temos um presidente que assumiu após um processo de impeachment. Michel Temer anunciou que medidas impopulares serão tomadas. Primeiro, estas medidas serão boas para Salvador. Segundo, o senhor reconhece como importante a interlocução e harmonia com o governo federal como foi pregado por seus adversários em 2012?

ACM Neto - Procurarei ter um diálogo direto com o governo federal. Vou procurar extrair o máximo para a cidade deste relacionamento. Jamais procurarei outro assunto que não seja o interesse principal de Salvador. A pauta é apenas e exclusivamente o que pode ser trazido para Salvador. Não terá conversas sobre cargos e indicações. Quero ter o máximo de obras, serviços e recursos que eu não tive de governo do PT. Com relação a medidas que o governo tenha que tomar, acho que tem que tomar. O país está quebrado. O PT quebrou o país. Não há drama social maior que o desemprego. Culpa do PT.

BNews - Momento algum a crise internacional influenciou?

ACM Neto - Não porque se vermos os países da América do Sul cresceram. Enquanto o Brasil despencou. Os EUA cresceram. Os países da União Europeia retomaram o crescimento. A queda econômica da China foi menor do que estava prevista. A conjuntura econômica internacional de 2014 para cá em nada interferiu se falarmos de 2008 tínhamos um contexto bem desfavorável quando o governo federal escolheu o rumo errado. Em 2004, então presidente tomou as decisões erradas. Sou favorável que se adote medidas como a PEC de contenção do gasto público. Não muda nada para Salvador. Não gasto um centavo a mais do que arrecado. Agora, que pro país é preciso, é.

BNews - O aumento para o judiciário trará impacto

ACM Neto - Eu acho que não é a hora e essas medidas que foram tomadas de reajustes astronômicos para certas carreiras, não estou entrando no mérito do Judiciário, mas para certas carreiras deve ser visto com muito cuidado. O momento agora é de ajuste.

BNews - Qual a área que é preciso se empenhar caso seja eleito?

ACM Neto - Existem muitas áreas que devemos aperfeiçoar, melhorar. Não é o fato de ter uma avaliação muito positiva que me faz chegar em casa todo dia e deitar tranquilo e achar que está tudo bem. Nós sabemos quais são os problemas que a cidade enfrenta. Em cada área a gente sabe o que avançou e o que precisa avançar. Se a gente olhar para trás e for fazer a comparação do que prometemos em 2012, estou muito tranquilo porque fiz mais do que prometi. Se buscarmos este parâmetro. Mas se buscarmos o parâmetro do que desejamos para a cidade temos muito o que fazer. Tenho uma grande obsessão para este segundo mandato que é pegarmos os pontos econômicos da Louos e PDDU e poder iniciar a implementação.

BNews - Em dois anos?

ACM Neto - Todo o nosso plano de governo é pensando em quatro anos. Todo o planejamento é feito para a duração do mandato. Não vou cair nesta armadilha. Eu acho que a nossa obsessão deve ser olhar o ponto de vista econômico mas fazer com que a prefeitura consiga contribuir para desconcentrar a economia de Salvador e, sobretudo, aproximar o emprego da moradia. 

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