Política

Alice Portugal promete rever IPTU e Louos e afirma: ‘ACM Neto é um ingrato”

Publicado em 21/08/2016, às 00h00   Aparecido Silva e Luiz Fernando Lima


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Deputada federal em seu quarto mandato, Alice Portugal (PCdoB) tenta a prefeitura de Salvador pela primeira vez. A comunista é considerada o principal nome da base do governador Rui Costa (PT) concorrendo ao Executivo municipal contra o prefeito ACM Neto (DEM) e não poupa críticas ao gestor democrata. Em entrevista ao Bocão News, dentro da série com os prefeituráveis, Alice disse que o governo do Estado é “grande aliado” de Salvador e chamou o prefeito de “ingrato”.

“O metrô estava parado há anos. Hoje, as pessoas se surpreendem com a velocidade e competência na execução das obras, isso é em benefício da cidade. Então, o prefeito é ingrato. Ele também é um prefeito empata-obra, porque para dar um alvará, leva seis meses”, alfinetou.

A comunista diz que, se eleita, vai manter as prefeituras-bairro. “Achamos que a descentralização é importante, mas não como funciona hoje, que são órgãos captadores de lideranças”, disse. Alice Portugal promete ainda rediscutir leis como a do PDDU, Louos, rever legislação sobre IPTU e ITIV e instituir campanha educativa para o trânsito da cidade. Confira a entrevista na íntegra:

Bocão News - As eleições municipais sempre foram analisadas como muito diferentes das estaduais e presidencial. Mas, essa tem uma característica diferente, seja pela agenda da crise econômica, seja pelo impeachment, seja pela própria estratégia que os grupos de um lado ou de outro usarão. Nesse sentido, como a candidata analisa a influência dessa agenda nacional numa eleição municipal em que se tem apenas 45 dias para falar de tudo?

Alice Portugal – Realmente, vamos realizar uma eleição municipal em um momento em que o país está imerso em crise política, além da crise econômica mundial, que é mundial, nós estamos vivendo um impeachment fraudulento. É um impeachment em que a presidente não cometeu crime de responsabilidade, onde tribunais internacionais, membros do próprio Ministério Público afirmam a inexistência de qualquer tipo de crime de responsabilidade. Assim sendo, estamos hoje verificando in loco uma etapa da história em que uma mulher honesta, completamente vinculada ao programa de governo que foi prometido, está sendo retirada à força da cadeira em que mais de 54 milhões de brasileiros a colocaram. Compreendemos que isso gerará um impacto inegável nas eleições municipais em todo o Brasil. Necessariamente, teremos que passar pelo capítulo da nacionalização da política. E é claro, do geral para o específico e do específico para o geral, porque esse golpe político já começa a impactar os estados com a redução de investimentos, com a restrição de concursos públicos, modificação de regras previdenciárias, com a modificação de regras trabalhistas, isso muito nos preocupa. Necessariamente, impactará nos destinos das cidades brasileiras. Então, eu sou contra o golpe, trabalhei, vocalizei a minha posição contra o impeachment, eu apontei o dedo para o rosto do senhor Eduardo Cunha, que por controle remoto conduz toda esta etapa no Congresso Nacional em especial e junto ao interino golpista. Objetivamente, com tiranos não combinam brasileiros corações. Foi o que eu disse a ele e direi ao prefeito que participou desse processo do golpe induzindo seus deputados a votarem a favor do golpe, de um impeachment sem provas. Esse é um divisor de águas, ele é a favor do golpe e eu sou a favor da democracia.

BNews - Candidata, havia a expectativa de que o PT teria candidato nas eleições em Salvador. A senhora, desde o ano passado colocou o seu nome no páreo. Sabemos que não foi fácil o afunilamento para a candidatura e foram muitas as tratativas. Nesse cenário de desgaste nacional do PT, acredita que a sua imagem na campanha sofrerá impactos e a candidata pretende defender o partido como faria um militante petista?

AP - Primeiro, quero dizer que o PT teria toda legitimidade de colocar um candidato no processo. Fizemos uma opção de maneira coletiva nessa frente e não houve tratativas, foram muitas reuniões para se chegar a uma conclusão adequada, para fazer as propostas para Salvador e ao mesmo tempo aglutinar essas posições dos partidos em nível nacional, em nível local, em defesa da democracia por uma Salvador mais justa. Hoje, tenho a parceria honrosa do PSD, do senador Otto Alencar, que foi a primeira força política a fazer o gesto de apoio; do PT, que traz consigo um patrimônio inquestionável de transformações sociais no Brasil; do PSB, da senadora Lídice da Mata, que inclusive retirou a sua candidatura para construir esse projeto novo, de alguém que nunca foi candidata em Salvador; temos o PTN, do deputado Bacelar, que tem sido um parceiro nas causas educacionais e efetivamente estamos nessa construção coletiva. A adequação do nome foi construída com todas as forças que estão nesse processo dessa frente, que é a frente que vai dizer sim para Salvador. Então, o que nós vamos fazer? Vamos defender, sim, o legado de Lula, o legado de Dilma, das mudanças sociais no país. Entrar numa sala de aula hoje, de engenharia, de medicina, pedagogia, e encontrar alunos negros oriundos da escola pública com sobrenomes do nosso povo, da Silva, da Conceição, dos Santos, é um diferencial. Nós vamos, realmente, elencar as grandes vitórias desse período, porque eu considero que os ataques que estão sendo sofridos por estas forças da mudança no Brasil são ataques que vão mais pelos acertos do que pelos erros que essas forças cometeram. Os erros precisam ser analisados e corrigidos, mas os acertos, na minha compreensão, não podem deixar de ser defendidos.

BNews - A prefeitura de Salvador tem, hoje, um orçamento de R$ 6,6 bilhões. São cerca de 15 secretarias e o prefeito diz que foi perseguido pelo governo do estado e pelo governo federal também. Primeiro, a senhora pretende manter, cortar ou ampliar esse número de secretarias ou criar pastas para minorias, estratégicas, voltadas para o social, como ocorreu no governo estadual e no governo federal? E, de fato, a senhora reconhece que houve esses empecilhos políticos nos planos federal e estadual na transferência de recursos para o município?

AP - O prefeito é ingrato. ACM Neto é um prefeito ingrato com o governo do estado, porque o governador tem sido amigo da cidade. Tem sido um governador que tem empenhado a sua palavra e cumprido a palavra com a cidade. As grandes obras estruturantes, de mobilidade, viadutos, ciclovia, avenidas, com arborização, com diálogo com a comunidade de cada espaço de cada via, tudo isso tem sido feito pelo governador do estado. O metrô estava parado há anos. Hoje, as pessoas se surpreendem com a velocidade e competência na execução das obras, isso é em benefício da cidade. Então, o prefeito é ingrato. Ele também é um prefeito empata-obra, porque para dar um alvará, leva seis meses. Por exemplo, na área do Iguatemi, para se ter a possibilidade de construir o canteiro para que o metrô passasse, foram mais de seis meses, segundo informações que tenho de técnicos. Isso é muito grave. Você não tem orçamento para fazer, o governo quer fazer e quer impedir que àquela obra seja dado o crédito do governo do estado, porque ele se coloca como adversário do governador. Na verdade, é uma candidatura para um ano e meio, porque é candidato ao governo, à presidência, não sabemos. Ele diz que vai esperar os apelos populares. Mas essa é a grande verdade, visto que a escolha do vice se deu nesse diapasão. É um ingrato, é empata-obra e o governo do estado tem feito um trabalho enorme de apoio a Salvador, que há muito tempo não via tantas obras. O governador Wagner iniciou esse ciclo com a Via Expressa, com vários viadutos e o governo Rui está amarrando esse cinturão de apoios. Tudo isso é em entrelace com o governo federal. Vamos continuar isso. Continuar e ampliar, fazer de Salvador uma cidade que dialogue. O prefeito não procurava a presidente Dilma, mas agora está todas as semanas com o interino golpista.

BNews - Caso eleita, e se mantiver o resultado do impeachment, como seria esse relacionamento entre prefeita e governo, já que a senhora foi uma das que apontou o dedo para o presidente Michel Temer através dos seus auxiliares no Congresso? Como seria esse diálogo?

AP - Eu vou estar levantando o tempo todo que, se ele permanecer, vai ser um golpe. É um golpe, um golpe político, jurídico, parlamentar, porque não há crime de responsabilidade que justifique o afastamento de uma presidente eleita. Temos data certa para eleições em 2018 e a minha proposta é para que ela retorne e inclusive convoque um plebiscito para saber se a nação quer antecipar as eleições. E sobre o dinheiro de Salvador, eu vou bater na porta, porque é uma obrigação do governo federal. Eu sei separar a luta política e a opinião da institucional. Como prefeita, eu irei ao presidente da República imediatamente. Como prefeita, eu irei ao Congresso Nacional pedir que aprove leis que sejam do interesse da cidade, procurarei todas as autoridades federais e estaduais para amparo e melhor serviço para Salvador. Uma coisa, é opinião política, outra coisa é a solenidade do cargo. Eu não vou prejudicar Salvador, não vou cometer malvadezas com a minha cidade porque tenho uma opinião diferente do interino. Eu vou procurar todos os caminhos, percorrer todos os gabinetes e corredores em benefício da cidade.

BNews - Ainda em relação ao orçamento de Salvador, as secretarias de Reparação e a de Cidade Sustentável respondem por uma parte minúscula de recursos em relação a outras pastas. Caso seja eleita, como pretende administrar esses setores e com relação ao número de secretaria, considera o ideal ou estuda reordenar a máquina municipal?

AP - Uma análise de antemão verificamos que o prefeito não é bom de serviço. Ele é bom de propaganda. Realizou várias obras de embelezamento e, evidentemente, eu sou mulher e gosto de tudo bonito e vou continuar embelezando. Governar é fazer escolhas e a minha perspectiva é governar para pessoas, é melhorar a vida das pessoas, dos que mais precisam, integrar a cidade, por isso, eu estarei invertendo as prioridades, por exemplo, em relação à igualdade racial. É uma cidade de maioria negra e nós vamos precisar estabelecer políticas públicas que orientem nessa direção. Vamos trabalhar também a questão do esporte, não tem nada de política de esporte na cidade. Agora, que estamos dando o aplauso ao nosso campeão Robson Conceição, sabemos que em cada rua, em cada bairro, melhor dizendo, tenhamos uma estrutura, um equipamento esportivo. Você não pode chamar a cidade inteira para vir para a orla nos finais de semana. Vou trabalhar na Secretaria de Esporte que está abandonada, vamos trabalhar em relação às mulheres e à juventude. Daremos uma mudança de rumo as estas secretarias e dando prioridades ao social. Salvador não tem uma maternidade. Ele prometeu que faria o Hospital Municipal, está fazendo a terraplanagem agora, às vésperas das eleições. Mulheres perambulam na hora de parir, porque não sabem onde vão ter o seu parto. Nós temos que dar prioridade às questões sociais, porque Salvador, em relação a serviços, está em situação de abandono. Vamos inverter prioridades nas secretarias.

BNews - Um dos pontos para que se possa ter esse serviço, essa dinâmica, as prefeituras-bairro foram instaladas aqui. Quero saber se você é a favor que estas unidades descentralizem serviços e estejam mais próximas das comunidades e, quero saber também, se a senhora é a favor de eleições para as prefeituras-bairro.

AP - Primeiro, a estrutura criada nós não vamos dissolver. Achamos que a descentralização é importante, mas não como funciona hoje, que são órgãos captadores de lideranças. Nós queremos que seja uma estrutura, a organização, se dê em torno de um conselho comunitário. É necessário que exista um conselho comunitário em cada prefeitura-bairro que poderá assumir um outro nome, não necessariamente esse. Mas nós vamos manter a descentralização com participação popular. Esse é o diferencial. As associações de moradores são diversas, infelizmente, muitas delas são transformadas em estruturas com donatários. Nós queremos estimular as associações de moradores a representarem os moradores, portanto, em associação com a federação de bairros de Salvador, com os movimentos pela moradia e outras organizações populares, de juventude, esportivas. Vamos criar conselhos comunitários para gerir, ao lado da representação formal do governo municipal, essas estruturas.

BNews - Esses conselhos, como muitos outros criados, inclusive no governo do estado e no governo federal, serão deliberativos? Hoje há um desgaste muito grande dentro destes AP - conselhos por conta da incapacidade de deliberar.

AP - Serão participativos, porque teremos que juntar o valor da democracia participativa com a democracia legislativa. Essa é a transição que a política brasileira vive. Na medida em que a política vem sendo criminalizada, deslegitimada, precisamos legitimá-la, eleger vereadores e vereadores que sejam capazes de serem os representantes legítimos dos interesses comunitários, mas ao mesmo tempo dar o valor e o peso necessário à democracia participativa. A arte de saber junta essas duas estruturas de poder é a arte do momento, é a política com letra maiúscula que precisamos fazer. Não substituirei a Câmara Municipal, mas garantirei peso na democracia participativa através dos conselhos comunitários.

BNews - Falando em Câmara Municipal, lá foram aprovados neste ano os projetos da Louos e o PDDU. Tudo isso ocorreu com forte resistência da oposição. Caso eleita, chegando ao poder, pretende rediscutir essas leis?

AP - Certamente. O plano diretor que foi aprovado em uma manhã é como se tivesse sido aprovado na calada da noite, porque a cidade não participou do debate. As audiências foram contractas, feitas de maneira rápida e com espaços limitados. A cidade não tomou conhecimento que 5% das suas reservas ambientais vão ser dizimadas em prol de interesses privados. A cidade não tomou conhecimento que você vai ter uma parte das praias sombreadas, que o miolo central na orla de Piatã até Armação terá uma modificação muito grande que nós poderemos ter hoje. Outro problema muito sério é o das taxas, como o IPTU. O IPTU ao ser majorado, elevado, na minha compreensão e de muitos técnicos, inconstitucionalmente. Você zoneou e Salvador não é uma cidade separada. É uma cidade que no mesmo bairro você tem diversas classes sociais instaladas. Quem mora no Calabar, não pode pagar o IPTU da Barra. Quem mora na Roça da Sabina, não pode pagar da Centenário. Isso é muito sério. Teremos que fazer uma análise desse cadastro para fazer justiça. Estamos fazendo esses estudos e realmente vamos interferir, democratizar o uso do solo e priorizar a cidade para as pessoas. Já dizemos que esse PDDU não representa os interesses da cidade.

BNews - Rediscutir estes projetos não vai gerar uma insegurança jurídica para o setor imobiliário, que já vem sendo atingido pela crise econômica?

AP - Salvador sofreu um duplo impacto. O impacto da crise e o impacto das atitudes da prefeitura de Salvador. Quando você sobe o valor dos terrenos, os proprietários de terras em áreas ditas nobres, e mesmo em outras áreas, estão judicializando o IPTU, gerando, portanto um congelamento o investimento naqueles terrenos. Ninguém compra, porque tem pendência jurídica, e ninguém constrói. O impacto na construção civil foi duplo: pela crise e pela atitude impensada da prefeitura municipal em relação a esse segmento. Tanto que estou abrindo um debate com empresários da área, porque Salvador transformou-se, dessa forma, na capital do desemprego. Nós temos 24,03% da nossa população desempregada e boa parte desse desemprego foi gerada pela ausência da dinâmica da construção civil que estava em crescimento em nossa cidade. O crescimento da construção civil impactaria, por exemplo, na minha opinião, em não subir o gabarito da orla? Não. Pode construir com o gabarito adequado e construir em outras áreas da cidade, com responsabilidade, sustentabilidade, com respeito ao meio ambiente. Quero estimular a indústria da construção civil, que gera milhares de empregos em Salvador, que nesse momento estão estagnados.

BNews - ACM Neto pegou uma cidade muito destruída e a cidade toda estava muito devastada após os anos de João Henrique. Esse, pelo menos, era o senso comum. Então, as mínimas coisas que foram feitas e bem publicizadas trouxeram o prefeito para um espectro de que ele fez muita coisa. Como a senhora pretende expor isso? O que foi feito é pouco diante do que poderia ser feito? Como quebrar a impressão que existe hoje, de que o prefeito avança a passos largos para renovar o mandato e de que a imagem dele está inabalada até agora? Ninguém conseguiu atingi-lo, ainda que se tenha tentado. Isso nos remete a um segundo caso, e aí vou condensar aqui, a oposição teve uma atuação aquém daquilo que se esperava diante do risco iminente dessa nova roupagem de uma política antiga?

AP - Primeiro, quero dizer que de fato o prefeito aproveitou-se de insuficiências e qualquer meio-fio que se pinte, é um advento. No entanto, é claro que as obras que ele realizou são obras que nós sabemos, são pontuais, quer seja na Barra ou no Rio Vermelho, quer seja nos bairros. Tem uma ciclovia na Suburbana que é um risco de morte, extremamente estreita. Então, são atitudes, obras que deveriam ser discutidas com a comunidade. Deveria perguntar à comunidade se ela prefere a pracinha no meio da avenida do Ogunjá, que oferece um risco enorme para qualquer criança que vá brincar ali, ou se ela prefere que um posto de saúde com médicos, que tenha equipe de saúde da família, cuja cobertura o prefeito diz que dobrou, mas Salvador é uma das capitais com menor cobertura no país. Ele diminuiu o número dos agentes de endemias em tempos de Zica, gerando microcefalia em tempos de chikungunya, de dengue. Então, na verdade, quando digo que governar é fazer escolhas, é porque as obras de embelezamento são importantes, mas elas não são o núcleo do problema da cidade. A cidade precisa mais do que isso. É evidente que estas obras vão ficar para a cidade, vamos requalificá-las. Se você me pergunta: o que você faria com o Rio Vermelho com R$ 70 milhões? Eu recondicionaria o Rio Vermelho, eu requalificaria mantendo seu bucolismo, fazendo passarela de acessibilidade e de caminhada, mas garantindo a pedra portuguesa, mantendo a paisagem bucólica e histórica do bairro cultural da cidade. R$ 70 milhões daria vinte creches, talvez até mais. O que vou dosar é o foco, vou focar nos que mais precisam, nas pessoas. Isso distoa totalmente das prioridades do prefeito que tem uma máquina de publicidade a seu serviço, parte dos recursos contratados com a prefeitura, isso funciona muito bem. Ele amplifica essas ações pontuais em um sistema de marketing integrado. Mas quando começar o horário eleitoral isso vai ser mostrado. E acho que Câmara trabalhou. A oposição trabalhou muito, temos vereadores guerreiros e guerreiras, mas eles não têm a mídia a seu serviço. Então, vamos recuperar o trabalho feito por estes vereadores e vamos trabalhar na demonstração do tipo de prioridade que Salvador precisa. Se tivermos, em cada bairro, um convênio com a Secretaria de Educação utilizando as salas que estão vazias no turno vespertino, estes jovens que estão fora do binômio idade/série, eles podem ter turmas de qualificação profissional para diminuir essa perambulância da nossa juventude nas ruas dos bairros populares. Podemos criar mecanismos de indução ao primeiro emprego ao lado do governo do estado e também com a própria estrutura municipal. Esse sistema de intermediação de mão de obra foi criado no governo Lídice e hoje tem cinco estruturas na cidade. Apenas cinco estruturas. Eu vou criar o SIMM móvel, porque vou dizer sim para Salvador e para a intermediação de mão de obra.

BNews - Candidata, a senhora mesma já dirigiu críticas ao prefeito ACM Neto por ter criado, em sua palavras, uma indústria de multas. Em São Paulo, cidade governada por Fernando Haddad, do PT, seu partido aliado, também recebe críticas semelhantes. O que diferencia o método de gestão de Haddad do de Neto?

AP - Primeiro, quero falar que nós defendemos ordem no trânsito, velocidade limitada nas vias para diminuir o número de mortes, respeito aos ciclistas. Vou fazer um amplo projeto de educação para o trânsito e cidadania, para que as pessoas possam passar na faixa de pedestre e o trânsito entenda que quem não está com uma máquina na mão é quem tem a prioridade. Então, o pedestre pede passagem. Ao falar das multas, não estou defendendo a completa banalização da segurança e da ordem, não é isso. Para garantir isso, um dos mecanismos é você multar quem infringe as regras. Agora, antes da multa tem a educação, antes da multa tem a transição. Não é possível que você mude da noite para o dia a velocidade de uma via e não avise a cidade. Quando você muda de 40 para 30 a velocidade máxima na orla da Barra e as pessoas estão sendo multadas duas vezes na mesma via em menos de um quilômetro de distância, não é possível uma coisa dessa. Você tem que avisar e passar pelo menos alguns dias no sistema transitório avisando a quem passou acima da velocidade recondicionada que aquilo ali mudou. Antes de multar, avise, eduque, advirta. Isto também é um preâmbulo em relação a uma infração. Mas que se instituiu a pena capital, transformou em ameaça à perda da carteira do condutor uma quantidade exorbitante de multas. E multas altas, sem que a cidade seja previamente advertida sobre as mudanças das regras. O último levantamento que temos é que foram R$ 160 milhões. Como o tribunal de contas audita despesas e não audita receita, nós queremos saber aonde esse recurso foi aplicado. Eu critico por este ângulo, pela exorbitância, por não haver advertência prévia, por não haver um sistema de educação para o trânsito e nós vamos mudar essa política.

BNews - A candidata é a favor do Uber?

AP - Eu acredito que a Câmara Municipal deu passos largos no debate das modalidades dos serviços de carros na cidade. O taxi, nosso serviço antigo e importante, tem regras duras. É preciso que o Uber seja colocado em debate para uma regulamentação. Não pode ser feita de qualquer maneira. Não podemos prejudicar o taxista, super taxá-lo e para outros facilitar. É necessário constituir legislação própria.

BNews - Foi feita uma licitação do transporte público. Para a senhora, está a contento, serve? A outra questão é em relação às estações de transbordo e a integração, tão necessária e vista em todas as grandes cidades do mundo. A gente demorou muito para ter um metrô. A licitação para o transporte foi feita e levou muitas críticas. Mudaria, faria diferente?

AP - Vamos chamar para o debate imediato o empresariado da área e precisamos pelo menos fazer modificações que constam nessa licitação e nesse contrato. Precisamos fazer modificações, a forma jurídica terei que estudar. No entanto, que modificações são estas? Modificação em prol do idoso, estão anunciando agora que o idoso vai entrar pela porta do meio, mas estamos a poucos dias das eleições. O ar-condicionado desses ônibus, por que não estão hoje funcionando em uma cidade de clima tropical? Temos, inclusive, redução de frotas, de linhas. Ah! Domingo é meia, mas é meia frota. Vamos ter que fazer um check-list do que foi contratado e do que está sendo servido. A depender disso, nós vamos rever. Segundo, em relação às estações. É uma coincidência, ou não, termos algumas obras da cidade com amigos. Então, vamos fazer essa imersão para essa verificação. Parentes, amigos, precisamos verificar de forma isso foi realizado e é claro que faremos isso ao lado dos órgãos de controle. Ainda em relação às estações, queremos discutir a tarifa. Eu não posso anunciar nenhuma medida nesse aspecto, mas a tarifa é justa para quem está desempregado, para o estudante?

BNews - A candidata já disse que pretende rediscutir projetos como PDDU e Louos, e nessa linha quero saber o seguinte: em relação a impostos como o ITIV, que hoje é cobrado antecipadamente, e ao IPTU, que a senhora mesmo tem criticado, serão colocados em debate novamente? Haverá uma reforma tributária?

AP - Temos hoje a clareza que há uma decisão inconstitucional em relação ao IPTU. Eu tenho conversado com vários especialistas sobre o que aconteceu na nossa cidade. Vamos, de fato, rediscutir o IPTU e vamos reativar a Secretaria da Fazenda. Há um núcleo duro, hoje, que decide essas questões e os técnicos estão entendendo que várias regras nacionais foram infringidas com estas decisões. Exemplo é o ITIV, o IPTU na forma como ele foi feito o recadastramento com milhares de documentos que não foram devolvidos aos proprietários. Quero dizer a vocês que nós vamos rever essas regras e vamos reestruturar a Secretaria da Fazenda.

BNews - O Plano Municipal de Educação, assim como o Plano Estadual de Educação sofreu mudanças naquilo visto como pauta progressista a exemplo da discussão de gênero, orientação sexual, enfim, porque há uma forte pressão dentro de núcleo de poder nos Legislativos que resistem a essas ideias. Como será dialogar com essas ideias conservadoras?

AP - O plano municipal de educação foi aprovado sem um debate com a comunidade educacional, com as associações de pais de alunos, com especialistas em educação. Aqui se assumiu uma pratica de se contratar consultorias, comprar pacotes pedagógicos, e isso não será nossa linha. Vamos instituir, de fato, uma nova forma de fazer educação com um projeto que seja compatível com nossas raízes culturais, étnicas, raciais, levando em conta nossa diversidade religiosa. Então, precisamos de um projeto pedagógico pensado para Salvador. A segunda questão é que vamos democratizar as escolas, com eleições diretas para diretor, garantia do funcionamento do tecido dos funcionários. Um porteiro pode ser um técnico, pode ser acesso ao programa pró-funcionário. Uma merendeira bem treinada pode perceber se uma criança está sendo vítima de um abuso sexual.

BNews - Escola sem partido, nem pensar?

AP - Já é uma denominação totalmente degenerada do que é a liberdade do professor. O professor é o dono da sala de aula. Você tem um plano pedagógico, de conteúdo, a quantidade de horas aulas que a lei regula, mas você não pode entrar no discurso do professor. Ele é livre na sua cadeira. O professor é dono do bom senso.

BNews - Candidata, o prefeito adotou o modelo de exclusividade de patrocínio para o carnaval com cervejarias. Inclusive, fechou contrato de três anos com a Ambev, ato que perpassa sua atual gestão. Pretende manter esse modelo de financiamento das festas populares?

AP - Ele fez projeções para 20 anos, a exemplo da licitação do lixo. Essa já vou lhe dizer que vou rever.

BNews - Mas ainda não foi concretizada...

AP - Se ele fechar, espero que não feche, isso é uma demonstração de desrespeito com a democracia, com a cidade, com a urbanidade. Em segundo lugar, está a ditadura do paladar. Não se pode agir assim. Numa festa da dimensão do carnaval, seria ilusória dizer que não se realiza contratos, parcerias. É a maior festa de rua do mundo. É óbvio que serei responsável nessa relação público-privado, mas jamais faria uma imposição de paladar.

BNews - Para fechar, quais as razões que o eleitor de Salvador terá para dedicar o voto em Alice Portugal?

AP - Gostaria de perguntar ao povo de Salvador se essa cidade bonita chegou para ele. Chegou para você? Chegou nos bairros populares? Essa cidade que é mostrada de maneira tecnológica, chegou para a maioria do nosso povo? Chegou saúde? Chegou educação de qualidade? Chegou creche? Chegou maternidade? Chegou hospital? Na minha compreensão, não chegou. É por isso que eu, deputada federal pela sexta vez, me sinto preparada, madura para fazer esse debate com a cidade. Ao lado dos partidos que fazem parte da nossa coligação, ao lado do governador Rui Costa, do ex-governador Wagner, Lula e Dilma com seus legados sociais para o país e para Salvador, faremos escolhas que serão em benefício da nossa gente. 

Classificação Indicativa: Livre

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