Política

Líder da Oposição na Câmara de Salvador diz que prefeito inverteu prioridades

Publicado em 18/05/2015, às 00h00   Aparecido Silva e David Mendes


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O vereador de Salvador e líder da Oposição na Câmara de Vereadores de Salvador, Luiz Carlos Suíca visitou na última sexta-feira (15) a redação do Bocão News. No bate-papo com os jornalistas, o petista falou da outorga onerosa, em discussão no Legislativo municipal, do tranporte público da capital baiana e da coleta de lixo. O edil soteropolitano ainda falou de política. quando as eleições municipais se aproximam e ele diz que tentará emplacar a sua candidatura a prefeito da cidade. Sobre os estragos da chuva, Suíca afirmou que o prefeito ACM Neto (DEM) inverteu as prioridades de gestão. "Não deixar a parte rica da cidade sem os seus benefícios para deixar de cuidar daqueles que não têm benefício nenhum". Confira a entrevista:

Fotos: Gilberto Jr. / Bocão News
Por Aparecido Silva e David Mendes
Bocão News - Qual o entendimento da oposição na Câmara na discussão da outorga onerosa e qual será o benefício que a população terá com a aprovação deste projeto?
Luiz Carlos Suíca - O parecer que nós apresentamos na Comissão de Constituição e Justiça diz que ela é inconstitucional. Ela não se desassocia do PDDU. O que a gente entende é que o Executivo está tentando passar o carro na frente dos bois. Então, Everaldo Augusto, Valdir Pires e eu apresentamos três pareceres na CCJ apontando para a inconstitucionalidade. Porque você está misturando a outorga, PDDU e Transcons. O mais perigoso de tudo isso é o fim do Fundurbs.  Que é o fundo que gere, administra o dinheiro oriundo de venda de imóvel. É o fundo administrado pelo conselho da cidade e o governo em nenhum momento teve a sensibilidade de discutir com o conselho. Talvez você chegar para a população e perguntar, ela não vai entender. O que é outorga onerosa? Todo mundo tem um direito de construir. Você quer construir um pouco mais, o pessoal das imobiliárias tem que pagar por isso ao governo. É isso que o governo faz, uma concessão e ela tem um valor. Esse valor pago é administrado pelo fundo, que é administrado pelo conselho das cidades. Então, ao nosso modo de ver, ela é inconstitucional. Ela não pode ser desassociada.
BNews -Tem se falado muito que a cidade não está com os 700 ônibus que o prefeito ACM Neto anunciou. A oposição está fiscalizando isso? 
LCS - A gente está buscando os seus 700 ônibus novos para ver se realmente existem esses ônibus na cidade. Porque apareceram alguns vídeos reformando alguns ônibus. A oposição já pediu uma audiência com Maurício Bacelar [diretor geral do Detran] para saber se os dutes são de ônibus novos. Também solicitamos audiência com o secretário Fábio Mota para saber se realmente existem 700 ônibus.  Além disso, queremos saber se tem dinheiro para instalações e áreas de conforto para os motoristas. Os fins de linhas que existem nos bairros eu acho que já estão ultrapassados. Não tem mais condições de deixar os ônibus nos finais de linha, no meu modo de ver, devem ser circulares. Ou seja, circulando o tempo todo. Essa é outra questão com os empresários de ônibus.
BNews - O vereador é um militante da categoria dos trabalhadores da limpeza urbana. Em sua opinião, o modelo de gestão do lixo na cidade atualmente é satisfatório?
LCS - Eu acho que tem que se fazer uma concessão pública, senão a prefeitura não terá condições de fazer investimentos. A prefeitura não vai ter dinheiro para pagar esse modelo de quatro em quatro anos. A prefeitura precisa fazer a concessão e a contrapartida deve ser caminhões novos mais trabalhadores varrendo ruas. Os trabalhadores estão se desgastando muito. As empresas só poderão fazer isso se elas tiverem um prazo maior como 20 ou 30 anos para fazer um movimento, que não é campanha. Porque campanha é diferente de movimento, campanha tem meio, começo e fim, e movimento acontece o tempo todo. As pessoas começam a ter consciência do lixo reciclado, colocando o lixo no horário adequado. Vai poder também fazer investimentos em contêineres subterrâneos como fez na Barra. Agora precisa que seja sejam feitos em Pernambués, em Cajazeiras, nos bairros periféricos. A coleta de lixo que é feita hoje é a mesma que se fazia há 20 anos. E 20 atrás a gente não tinha essa quantidade de carros. A gente saía daqui da Pituba para ir até o aterro sanitário em Canabrava em um tempo de 15 minutos, hoje a gente leva duas horas e o lixo se acumula. São mais horas extras e mais despesa para as empresas. A população precisa entender que a concessão é melhor para a cidade, para saúde. A prefeitura ao longo dos anos não pensou que o lixo seria um grande problema como foi em uma cidade como Nápoles, onde as pessoas estavam transportando lixo de um lugar para o outro e não é só queimar lixo, é preciso criar condições. O aterro sanitário de Salvador localizado no Cia já está com a capacidade se esgotando. Vai esperar terminar e vai construir outro? Só se pensa isso na hora que dá problema.
BNews - Sobre política, o vereador acha legítimo o PT pleitear a prefeitura de Salvador no ano que vem ou acredita que o partido deve abrir para nomes de aliados?
LCS - Eu gosto de discutir política na época dela, no ano da eleição que é 2016. O Partido dos Trabalhadores não é dono da política do Brasil. Nós entendemos que a crise que nós estamos passando não é uma crise do PT. É uma crise da política, de modo geral. Não vamos jogar todo mundo em cova rasa, mas é uma crise da classe política. É difícil você ser parlamentar e chegar em um lugar e alguém lhe olhar com os cantos dos olhos. O Partido dos Trabalhadores tem uma importância muito grande na transformação da vida das pessoas, na redemocratização do país, em colocar filhos de negros e pobres na universidade, distribuição de renda, mas eu não quero viver só com 12 anos do período de Lula. O PT tem a obrigação de dar um basta ou uma repaginada na política. Se você tem um político comprometido com o coletivo, com a saúde e com a educação você vai ter tudo isso de forma mais tranquila e com qualidade. Agora, se só tem político que pensa de forma individual a política toda vai de forma inevitável para cova rasa. Nós temos que trazer os jovens para a política. Eu cheguei a vereador com 46 anos de idade, mas vivo na política desde os 16. Temos que oportunizar os jovens para que eles se voltem para o coletivo. E o PT tem tempo de mudar essa história. Quem está a fim de mudar essa história, fica no PT. Quem não está a fim de mudar essa história de forma coletiva tem de sair do partido. Eu não sou carreirista. Eu só estou aqui para transformar, porque eu sou da categoria dos trabalhadores em limpeza urbana, de uma categoria de terceirizados que sofre com dias  e meses com atraso de salários e isso não importa se é dos partido dos trabalhadores. Eu vou estar do lado dos trabalhadores porque essa é que é a diferença. Alguns companheiros conseguiram fazer a luta contra aqueles que estavam do lado de lá nos oprimindo. Outros foram para o lado daqueles que sempre nos oprimiram, mas aí eu entendo que seja uma luta individual não é uma luta coletiva. A luta coletiva é está aqui, sofrendo, apanhando,  reclamando dentro do partido. Mas é assim que se faz a política para todos. Acho que o PT tem tempo suficiente esse ano de apresentar um nome para disputar as eleições de Salvador ou de qualquer município. Agora, não podemos perder de vista os aliados e temos que apostar na juventude. Não precisa ser de 23 e 24 anos eu tenho dito sobre quando é que um jovem, sem querer ser racista ou de ser racismo ao contrário, negro e pobre que esteja na política chegue à prefeitura de Salvador com 34 anos ou chegue à Câmara de Vereadores com 23 anos.
BNews - Dos nomes já colocados como possíveis candidatos à prefeitura de Salvador pelo PT, o que acha? Você também tem vontade de administrar a capital baiana.
LCS - Entre os nomes dados eu acho que todos têm condições, mas precisa ter uma relação com a cidade. Jorge  Solla fez um trabalho bom na Secretaria de Saúde, a gente até dizia que se precisasse falar com Solla era só ligar. E se ele não pudesse atender, meia hora depois ele retornava a ligação. É um cara que conhece a cidade. Walter Pinheiro já foi candidato a prefeito de salvador e está dizendo que não é candidato. Gilmar já se colocou e ele está a fim de disputar porque todo mundo que é da política tem vontade de ser prefeito da sua cidade. Valmir Assunção é o nome da minha corrente, importante, que se identifica muito com a periferia.  Se a corrente e o partido entenderem que meu nome também seja um nome importante, é claro. Porque não? Um vereador, que lutou sozinho desde os 16 anos na periferia vendo meus amigos morrerem nas drogas, na minha família só eu cheguei onde cheguei sendo o único a cursar uma faculdade. Eu fui para a luta, eu fui para as ruas, para o enfrentamento com a polícia de ACM. Na época, fui preso, deixei minha família durante 30 dias por defender os trabalhadores. Se o partido quiser, não adianta eu ser candidato de mim mesmo, eu estou à disposição.
BNews -É possível apontar um culpado pelos estragos causados pela chuva em Salvador?
LCS - Todos que passaram na prefeitura de Salvador, desde que eu acompanha nos últimos 16 anos, deixou de fazer um plano de encosta. ACM Neto, como os outros, não apresentou o plano. João Henrique tinha 98 encostas e passou para o governo do estado que começou a fazer duas ou três encostas. Acho que Neto com todo investimento que foi feito na Barra para trazer turista, já deveria com a equipe dele ter identificado os pontos críticos. Até porque ele já pegou a chuva do ano passado.  Essa é a inversão de prioridades que eu faria se eu pudesse um dia ser prefeito de Salvador. Não deixar a parte rica da cidade sem os seus benefícios para deixar de cuidar daqueles que não têm benefício nenhum. Lógico que vai levar anos para você fazer encostas em 600 áreas de risco, mas é por isso que a gente precisa pensar em uma política mas amplificada. Não vou aqui jogar culpa se foi ex-prefeito, um ou outro, mas a prefeitura já poderia já ter pensado em um plano de identificar áreas como Marotinho, o Barro Branco, que são mais graves e agora a Baixa do Fiscal que teve até uma moça da nossa categoria que perdeu parentes. Era essa inversão de prioridades que eu faria.

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