Especial

Eduardo Jorge apresenta um PV sem medo de falar

Imagem Eduardo Jorge apresenta um PV sem medo de falar
Pré-candidato à presidência da República fala de interrupção de gestação, drogas e corrupção  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 25/05/2014, às 00h00   Luiz Fernando Lima (Twitter: @limaluizf )


FacebookTwitterWhatsApp

Depois de estourar de votos na última eleição presidencial, em 2010, quando a ex-senadora Marina Silva se filiou e disputou a presidência da República pelo PV, o partido traça uma estratégia diferente. No pleito de 2014, o cabeça da chapa verde será um dos primeiros militantes, Eduardo Jorge. Também tendo história no PT, o baiano de nascimento e paulista de criação foi deputado constituinte e um dos redatores do projeto de planejamento familiar. Médico e secretário municipal da Saúde na maior cidade do país em duas gestões, Eduardo apresenta um programa de governo ousado e corajoso. Os verdes despiram o discurso da ex-senadora, que traz diretrizes vinculadas à religião, e não se furtam em discutir questões polêmicas como interrupção de gestação, regulamentação de drogas e corrupção. Confira esta entrevista exclusiva

Bocão News - Eduardo Jorge seria interessante abrirmos esta entrevista com a apresentação das razões que levaram o PV a lançar uma pré-candidatura. É uma estratégia para marcar posição no primeiro turno?
Eduardo Jorge - O diretório nacional do PV em fevereiro último fez uma avaliação da situação política brasileira e traçou uma estratégia que tem três elementos. Primeiro, é importante e democrático, numa eleição de dois turnos que no primeiro turno tenha o maior número de correntes ideológicas e partidárias possíveis. Com isso, chega-se ao segundo turno com um amadurecimento maior do eleitorado. Tem esse primeiro momento e tem o segundo turno no qual se faz uma discussão mais focada entre os dois que o povo escolheu. O PV acha importante que haja segundo turno, quer colaborar para isso e de preferência estar no segundo turno, embora seja uma disputa realmente muito desigual.

Bocão News - Como se distribui estas forças políticas e não é uma disputa desproporcional?
Eduardo Jorge - Nós temos consciência de que existem três grandes forças poderosíssimas que têm o apoio empresarial, sindical, de aparelhos partidários e empresas estatais. A gente sabe que existem três grandes favoritos (Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos), mas queremos participar e apresentar nossas propostas. Em segundo lugar, a gente quer ajudar a eleição de deputados federais e estaduais adeptos da causa do meio ambiente. É muito importante para um partido como o PV que é parlamentarista que tenhamos bons deputados ambientalistas em Brasília e em todos os estados. O PV é o porto seguro da questão ambiental no Brasil. Em terceiro lugar, como nós somos um partido de ideias, nosso grande patrimônio é esse. Se não falarmos não apresentamos nossas ideias. Esse tripé forma a nossa estratégia. Nós elaboramos um documento em março com dez diretrizes que fala de políticas públicas em geral, em todas as áreas e estamos divulgando isso pelo Brasil.

Bocão News - O senhor acredita que o eleitorado brasileiro está preparado para mais uma via nas eleições? A disputa parece bipolarizada entre PSDB e PT. Ainda que reconhecendo a presença do candidato do PSB Eduardo Campos, poucos são os que apostam nisso. Como o senhor analisa este cenário?
Eduardo Jorge - Essa bipolarização é falsa. Porque na verdade, quando se analisa a origem político ideológica desses dois partidos (PSDB e PT) percebe-se que os dois são originados na mesma família socialista – o Partidos dos Trabalhadores é um partido socialista quase marxista, já foi mais e hoje é menos – e o PSDB é um partido socialdemocrata. O partido socialista brasileiro (PSB) também. Uma coisa interessante é que esses três grandes partidos que concorrem nesta eleição presidencial  temperaram seus programas com propostas bastante liberais e capitalistas. Eu considero os três da mesma família só que um é cor de rosa, um é mais vermelho e o outro é carmim. Eles têm um tempero liberal capitalista amarelo. Nós somos um Partido Verde o que é uma novidade realmente muito grande. O PV vem para criticar e ajudar na evolução tanto nas famílias dos partidos de origem socialista quanto nos partidos de matizes mais capitalistas. Tanto o socialismo, desde a socialdemocracia até o marxismo, como os capitalistas se preocupavam em equilibrar dois fatores: o social e o econômico. Nos 200 anos desta existência a questão ambiental nunca foi respeitada por eles. Portanto, o PV vem com outra dimensão. Uma terceira nova que vem incorporar a questão ambiental nestes vários tipos de partidos.  O que nós queremos é que a questão ambiental seja equilibrada com os fatores economia e justiça social. Nós não queremos que o fator ambiental seja uma espécie de ditadura verde sob a economia impedindo que o povo tenha trabalho, pão dentro de casa, habitação. Nós não queremos que a questão social tão importante que é a diferença entre a extrema pobreza e a extrema riqueza deixe de ser enfrentada de forma rigorosa. Nós queremos que tenha trabalho, que a economia ande, que cada vez mais a sociedade seja mais justa e igualitária, mas que isso seja feito respeitando os limites da natureza. Queremos isso porque queremos que haja planeta para os nossos netos e os nossos bisnetos. Nós seriamos uma espécie muito egoísta se só pensássemos em consumir o planeta na nossa geração e legar um planeta devastado para os nossos descendentes. Essa é a preocupação do PV. Nós queremos qualidade de vida hoje, mas queremos também qualidade de vida para as gerações futuras. Estas ideias começam a ser discutidas seriamente agora.

Bocão News - O senhor acredita que a última eleição presidencial na qual o PV apresentou a candidatura de Marina Silva (atualmente no PSB) serviu para o partido expandir as bases e fortalecer a estrutura? Aqui na Bahia o partido mudou e saiu das asas do PT. A aliança com o DEM se mostrou, inicialmente, positiva?
Eduardo Jorge - Foi muito boa aquela experiência de 2010 de firmar uma coligação do Partido Verde, que é um partido que chegou ao Brasil muito subestimado e hostilizado tanto pela esquerda quanto pela direita, e a Marina Silva. A Marina é uma instituição. A Marina tem suas próprias concepções, principalmente em relações às questões religiosas e fundamentalista, que diferem das bandeiras históricas do PV, por isso, nós tivemos que fazer uma coligação que considerasse isso. Então, algumas dessas bandeiras não puderam aparecer no programa de 2010. Nós tivemos 20 milhões de votos, mas foi uma votação muito eclética, porque praticamente só existíamos nós, como opção. Era o Bahia e o Vitória de um lado - PSDB e PT - e todo mundo que estava insatisfeito vinha para a gente. A nossa votação de 2010 tinha desde o ecologista mais consciente ao pastor evangélico mais reacionário. Esta é uma verdade. Não podemos ignorar isso. Agora, não. O PV vem com seu programa mais tradicional onde todas as nossas posições estão mais claras. Como é que estas serão aceitas pela população nós vamos ver na eleição, mas o nosso papel é lançar as propostas que achamos necessárias para a defesa do meio ambiente, para a qualidade  de vida nas cidades, para a convivência melhor das pessoas entre si. Nós não queremos esconder nada das nossas posições.
Bocão News - Dentro dessas propostas entram as discussões sobre a legalização da maconha, aborto e outros temas que geralmente são evitados pelas candidaturas ditas mais fortes?
Eduardo Jorge - Estas são políticas que eu chamo de políticas órfãs. São coisas muito difíceis, que causam muito sofrimento nas famílias brasileiras e que os políticos fogem mais que o diabo da cruz, inclusive, mentem ou escondem suas verdadeiras posições porque acham que podem perder votos. As diretrizes que o PV está divulgando desde março falam de todas as políticas públicas. Falam do que nós consideramos desenvolvimento sustentável, falamos de uma reforma política muito profunda que o Brasil precisa para avançar e resgatar o prestigio da democracia representativa que está muito em baixa. Os vereadores, deputados, prefeitos, governadores e a presidente da República estão muito desmoralizados e nós estamos propondo as nossas diretrizes. Nós falamos em reforma tributária, nova política energética, reforma da previdência, saúde e educação, mas nós não fugimos destes dois temas que você falou. Eu sou o autor da Lei federal que regulamentou o planejamento familiar no Brasil. Sou médico, fui um dos criadores da lei que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), fui secretário de Saúde de São Paulo duas vezes. Trabalhei a vida toda na periferia pobre de São Paulo e sou autor da lei do planejamento familiar. A posição do PV é que para diminuir este drama do aborto no Brasil a coisa mais importante é ampliar a oferta do planejamento familiar no SUS. A consciência dos casais de que é possível planejar os filhos que eu posso e quero ter. Esta é nossa posição, é minha posição pessoal e a minha posição enquanto um dos parlamentares responsáveis pela lei de planejamento familiar. Agora, enquanto esse planejamento não se estende, enquanto a educação, principalmente, entre os jovens, não diminui o drama das gestações, eu tenho por ano no Brasil entre 700 e 900 mil realizações de interrupção de gestação, o Ministério da Saúde não sabe dizer direito quantos são porque são clandestinos. Vou falar novamente, 800 mil mulheres brasileiras vão fazer em 2014 a interrupção de gravidez na ilegalidade. Pela lei brasileira essas mulheres são criminosas. Um médico ou uma pessoa que conhece essa realidade não pode de forma responsável lavar as mãos diante desse drama. É uma crueldade fazer isso com essas mulheres. O PV não defende a realização de abortos porque isso é uma coisa sempre muito traumática. Nenhuma mulher faz um aborto por brincadeira. É um sofrimento muito grande para ela. Porque o extinto da mulher é maternal. Graças a Deus a mulher tem esse instinto. Mas ela é levada a isso por situações muito complexas, sejam sociais, psicológicas, efetivas, conflitos familiares. É difícil para um homem, mesmo que seja um pastor, padre ou juiz, julgar. Eu, como médico, sou autor da lei do planejamento familiar, acredito que este é o caminho, mas eu não vou me omitir, nem me esconder diante deste drama das mulheres brasileiras.

Bocão News - Em entrevista recente o presidente do Uruguai José Mujica declarou que as medidas que está tomando servem para combater o tráfico de drogas e os traficantes, com relação ao aborto e ao casamento entre homossexuais, algo que já existe e precisa ser aceito legalmente...
Eduardo Jorge - Eu discuti muito isso com alguns deputados evangélicos, temos muitos parlamentares evangélicos do PV, que eu sei que é uma coisa muito difícil por envolver vidas. Mas a nossa posição é que se houver alguma possibilidade de descriminalização da interrupção da gravidez tem que ter um limite de idade gestacional, não se pode ter abortos com cinco meses, por exemplo. 99% dessas 800 mil mulheres que farão a interrupção da gravidez esse ano são católicas ou evangélicas. Ora, nada impede que as religiões façam a pregação para que elas não façam o aborto. O que não pode é eles empurrarem para o Estado, que é laico, esse papel cruel. No caso da droga é uma coisa menos dramática, eu acho. É mais de se raciocinar. Durante 50 anos o Brasil, os EUA, a Colômbia, o México, os países europeus e asiáticos, desde que foi assinada na convenção das drogas lá em Nova Iorque, em 1961, se tentou uma política de impedir o uso das drogas ilícitas de qualquer jeito. Acabar com a produção, o plantio, o tráfico, o consumo. E durante 50 anos o mundo fracassou, só piorou tudo. Aumentou o número de dependentes, as drogas ficaram mais perigosas, aumentou o número de gente presa no mundo inteiro – jovens presos no EUA já são quase três milhões e no Brasil chegam a 500 mil -, aumentou a corrupção na polícia, aumentou a violência, aumentou a riqueza dos criminosos que hoje fazem da droga o principal esteio da economia paralela no mundo todo. Então, essa política de pura repressão é o maior fracasso de política pública que já existiu. O que a Espanha, Portugal e agora Uruguai e alguns estados do próprio EUA estão fazendo é pensar em novos caminhos. Não é para estimular o consumo. O PV não quer estimular que ninguém use maconha. Não! Eu quero usar outro caminho mais inteligente para que o prejuízo que as drogas ilícitas causam seja menor. Porque se revelou que é uma tarefa impossível, são 50 anos, trilhões de dólares jogados na tal guerra das drogas, com resultados totalmente negativos. Eu prefiro gastar esse dinheiro na Educação e na Saúde. Ao invés de colocar a droga, a maconha, por exemplo, na mão do traficante – porque quem quiser comprar seja jovem ou velho compra -. Quem regula o tráfico e o acesso é a economia do crime. É nessa hora que o traficante oferece uma droga mais forte para jovem. O Estado, não é que vai legalizar porque dá a impressão de que quer estimular, tem que regular. Vai comprar em locais que o Estado tem controle. Vamos tirar essa fonte inesgotável de dinheiro das mãos dos criminosos. Que tornam eles senhores que dominam regiões inteiras de cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo. Eles mandam dentro das penitenciarias. Vou tirar o dinheiro desses caras e vou investir em campanhas, por exemplo. Campanhas como: Amigos não use a maconha como maneira de ter emoções. Eu por exemplo prefiro a literatura, música, observação de pássaros. Mas se vai usar, use o menos possível para não causar danos a sua saúde, ao seu emprego à sua família. O mesmo que é feito com o álcool. Não se deve usar o álcool, mas se for usar, use com moderação. Primeiro, eu vou ter mais dinheiro para gastar em campanhas educativas. É melhor que gastar sacos sem fundo de dinheiro com polícia e penitenciária. Se for possível não use. Se usar, use o menos possível. Depois é gastar com apoio clinico. Existem estudos que apontam que a maconha causa dependência em 10% dos usuários. Eu, enquanto agente de saúde, quero tratar esses casos no começo. Para não encontrar ele no nível de dependência profundo. Com o sistema a luz do dia eu vou localizar eles no início. Oferecer a oportunidade de sair dessa. Quem sustenta tratamento hoje é a própria família. Essa é uma estratégia mais inteligente. Para quebrar o preconceito e o tabu. Nós não queremos estimular o consumo, queremos uma estratégia mais inteligente.

Bocão News - A possibilidade da vice-prefeita Célia Sacramento ser candidata a vice-presidente é real? E como o senhor avalia a situação do PV local?
Eduardo Jorge - O PV terá seu encontro em 14 de junho para oficializar. Hoje, eu sou um mero pré-pré-pré-candidato. Sou um porta-voz das diretrizes. O que o PV quer é mostrar que a gente tem propostas de políticas públicas em várias áreas. A Celia é hoje o nosso quadro político de maior destaque no Brasil. Porque ela é vice-prefeita da terceira cidade mais importante deste país. Acho que a contribuição que o PV e a Célia estão dando à gestão de Salvador está sendo importante. Há um reconhecimento do governo e da cidade de que ela tem sido importante. Portanto, se o PV nacional achar conveniente que ela faça uma chapa comigo, eu acho uma coisa maravilhosa. Se ela quiser eu dou a cabeça da chapa para ela e fico como vice. É uma pessoa que conheci mais recentemente, mas só a história de vida dela já é uma coisa impressionante. Primeiro, é uma decisão do diretório nacional. Segundo, é uma decisão que cabe ao PV da Bahia avaliar aonde ela pode ajudar mais. Esta é uma coisa que precisa ser bem avaliada. Nós não podemos substituir. Porque quem conhece o quadro atual da Bahia melhor é quem está aqui. Isso vale para sabermos se é melhor lançar candidato próprio para governador ou se coligar com o candidato a ou b. Nós, do diretório nacional, estamos deixando ao cargo da seção estadual, recomendando que se pudermos lançar candidato próprio é melhor e se for coligar procurar aquela força política, do campo socialista ou mais capitalista, que incorpore nossas teses ambientalistas. É uma questão que os nossos verdes de Salvador têm a capacidade e tem a reponsabilidade para ver o melhor caminho. Uma coisa que a gente acha muito importante é não perder de vista a necessidade de eleger deputados federais e estaduais que tenham o compromisso com a causa ambiental, que não só falem da causa ambiental, mas que vivam a ideologia e a filosofia do PV nas suas vidas. Às vezes, uma pessoa se elege pelo partido e depois chega lá e sente dificuldade de defender nossas posições e muda de partido. O que a gente lembra aos militantes do PV da Bahia é que queremos eleger deputado ambientalista e que cuidem da qualidade dos candidatos.
Bocão News - As pastas de meio ambiente geralmente não têm grandes receitas orçamentárias. O senhor quando fui secretário em São Paulo disse que era necessário dialogar com as outras pastas para tornar as medidas efetivas. Como funciona esta característica intersetorial?
Eduardo Jorge - Isso ai é o limão que vira limonada. Realmente as estruturas, sejam nos municípios, estados e até no governo federal, ligadas ao meio ambiente são muito pequenas. O ministério de meio ambiente tem incríveis 0.4% do orçamento. É uma coisa dramaticamente pequena. Isso é porque a política ambiental é uma política nova e chega nos orçamentos de um país difícil como o Brasil em que os recursos são insuficientes para Educação, Saúde, Transporte e Segurança Pública. Não é fácil a vida de uma política nova com a ambiental. O que eu aprendi lá em São Paulo é que nós temos que reivindicar melhores estruturas, ampliar a estrutura própria nos estados e municípios, mas o mais importante é a nossa capacidade de dialogar com outras políticas públicas. De incorporar a política ambiental nas outras políticas públicas. A minha pregação é falar com o secretário de transportes, por exemplo, que é responsável por uma questão dramática como a questão da mobilidade urbana. A organização mundial da Saúde acabou de publicar um estudo que coloca o ar das cidades grandes e médias do mundo todo como risco um de câncer. Veja que situação dramática. Nós moramos na cidade e hoje a gente tem a consciência cientifica que nós estamos sendo envenenados. O que provoca isso é o combustível fóssil dos ônibus, carros e motocicletas, caminhões. Que são as formas como a cidade se move. Eu tenho que pedir ao secretário do transporte que saiba disso. Ele tem a responsabilidade de manter as cidades, que não foram pensadas para o transporte coletivo, e precisam agora caminhar nessa direção. Eu tenho que trocar o pneu com o carro andando. Além de eu pedir para ele colocar mais ônibus, construir mais metrô, recuperar os trens, tenho que dizer para ele mudar o combustível dos ônibus. Porque o diesel dos ônibus também envenenam os nossos pulmões. A mesma coisa eu falo em relação a questão habitacional. Eu não posso continuar empurrando as populações pobres como faz hoje e fez durante décadas os governos brasileiros para a área de riscos, sujeitas a desabamentos. Nos três níveis (federal, estadual e municipal) não tem políticas sérias de habitação para a população mais pobre. Isso significa que os governos são responsáveis pelas mortes provocadas por desabamentos, enchentes que acontecem Brasil afora. A gente já sabe que vai ter mais enchente, mais desabamentos e mesmo assim a gente continua sendo conivente com as populações de trabalhadores que saem para trabalhar sem saber se vai acontecer alguma coisa e ele vai perder o filho dele que ficou em casa. Veja como são questões intersetoriais que a área de meio ambiente pode ajudar a pensar outras soluções. É uma mudança que não acontece da noite para o dia, que é preciso muito força de vontade, mas é preciso começar.

Bocão News - E os mecanismos de fiscalização para o combate à corrupção que existe em todos os setores e também atinge as pastas de meio ambiente e ONGs. Já se tem um panorama disso?
Eduardo Jorge - Isso vale para toda a administração pública brasileira.  Neste ponto, as nossas posições de reforma política no Brasil são bastante radicais. No nosso programa a gente defende que o serviço público brasileiro seja profissionalizado de verdade. Chega! O Brasil é o campeão mundial de cargos políticos indicados na administração pública em todas as áreas. Atinge o meio ambiente, saúde, transportes e até as empresas públicas. O PMDB e o PT, na Petrobras, disputam palmo a palmo a indicação de apadrinhados e camaradas e companheiros. Isso dá no que dá. A nossa proposta é a de profissionalização profunda. Tem que ter carreira, concurso, cobrança de metas para os servidores públicos e a redução drástica no número de indicação. Com isso, já se ganha em transparência, profissionalismo, e dificulta muito. Mas impedir totalmente a corrupção é difícil. Mas a ideia é diminuir muito. Os servidores vão saber que a mudança de governo não pode travar a máquina, porque ai é que se ganha o pão, o sustento da família e não pode entrar em fria. O pessoa comissionada, às vezes, é muito aventureira.

Bocão News - Como tornar viável economicamente esta política ambiental? As barreiras são complexas e a cada dia surgem grupos que acusam os ambientalistas de travarem o progresso.
Eduardo Jorge - O modelo econômico dos seguimentos industriais, do agronegócio, da indústria extrativa tem que mudar porque eles seguem um modelo antigo tanto do capitalismo quanto do socialismo. Lá os limites da natureza não eram respeitados. Se isso não mudar nós vamos caminhar para um desastre. Todas as evidências científicas estão ai. Só não querem levar em conta aqueles que querem enganar o povo, que querem promessas apenas para os quatro anos de governo futuro. Porque isso exige mudanças muito profundas na indústria. Mas exige mudanças profundas também na forma como eu e cada um de nós consumimos aquilo que nos é oferecido. Só existe um comportamento sustentável deles quando o meu comportamento de cidadão exige isso deles. Isso é profundo. É a mudança no hábito tanto das classes mais abastadas quanto nas classes mais populares. Nós vamos ter que mudar a nossa forma de consumir e comprar. As prioridades do que vamos comprar. Nas nossas propostas uma das coisas mais importantes é a nossa alimentação. O Partido Verde acha que a agricultura é algo até mais importante que a indústria. Todo mundo diz que a indústria é a modernidade, é a inovação, mas ninguém come celular, ninguém almoça tênis de marca, ninguém janta automóvel ou moto.  Uma das coisas mais importantes é se ter uma agricultura que entregue alimentação de qualidade. Hoje, infelizmente, a gente tem uma agroindústria poderosíssima no Brasil, mas a qualidade do alimento entregue ao brasileiro não é boa. É um alimento com excesso de sal, de açúcar, com gordura, com resíduos de agrotóxicos e isso significa uma fábrica de gente com diabetes, com hipertensão, sobrepeso, obesidade. No caso no agrotóxico é uma fonte do aumento de incidência de câncer, de má formação. Veja como a consciência do cidadão consumidor é a questão mais importante. É preciso cobrar a mudança em todos os seguimentos, é. Mas primeiro eu tenho que mudar a minha atitude de cidadão, de consumidor. Isso é uma coisa que depende de você e de mim.

Fotos: Roberto Viana // Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp

Tags