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Gabrielli: Lula sabe que sou pré-candidato e não pediu para eu retirar, portanto

Imagem Gabrielli: Lula sabe que sou pré-candidato e não pediu para eu retirar, portanto
Secretário de Planejamento e ex-presidente da Petrobras abre o jogo ao Bocão News  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 18/08/2013, às 00h00   Lucas Esteves e Luiz Fernando Lima


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Durante pouco mais de uma hora, o secretário estadual do Planejamento, José Sérgio Gabrielli, se dispôs a esclarecer todas as denúncias feitas contra ele nas últimas semanas. Nesta entrevista exclusiva concedida à reportagem do Bocão News, o ex-presidente da Petrobras também não fez mistério quanto a sua condição de pré-candidato ao governo do estado em 2014. Dividida em três partes, a conversa foi aberta com o principal projeto tocado por ele na gestão estadual, passando para os assuntos da Petrobras que, para ele, estava sendo preparada para ser vendida antes de Lula assumir, e é encerrada com declarações como “ele (Lula) sabe que sou pré-candidato e não pediu para eu retirar a candidatura, portanto...” Não deixe de conferir!

BNews: Secretário, qual o balanço das atividades já realizadas para a construção da Ponte Salvador Itaparica? Em que pé está o planejamento e execução do cronograma?

José Sérgio Gabrielli: Divulgamos no último dia 14 o resultado da licitação para realizar os estudos e relatório de impacto ambiental. O consórcio vencedor é formado por duas empresas, uma brasileira e outra portuguesa. Ainda estamos no período de contestação do resultado, assim que este for encerrado (cinco dias), acreditamos que o processo de mobilização para a coleta de materiais seja iniciado. Já temos contratado a Geofort, que é a empresa vencedora da licitação para sondagem. Os equipamentos estão no estaleiro, em Simões Filho, e estamos esperando apenas o sinal verde da Marinha para iniciarmos a coleta dos materiais, o que deve acontecer nos próximos dias. O edital para seleção de empresa de engenharia foi vencido por um consórcio formado pelas empresas Enescil (Brasil), Cowi (Dinamarca) e Maia Melo (Brasil). Esta empresa dinamarquesa tem no portfólio mais três mil pontes projetadas. Estamos concluindo o projeto de contratação da Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ) para fazer os estudos de hidráulica marinha e estamos em fase final da contratação dos estudos urbanísticos. Três empresas estão concorrendo. A vencedora vai produzir o estudo dos impactos urbanísticos e fazer a revisão do plano diretor de Vera Cruz e de Itaparica.

Sobre a última audiência realizada na quarta-feira (14) em Vera Cruz. Como está a receptividade?

Na audiência realizada na Câmara Municipal de Vera Cruz, após toda a explicação sobre a ponte foi possível identificar claramente a preocupação dos habitantes, dos representantes, vereadores e dos prefeitos da região com a situação atual da Ilha. Os indicadores sociais estão melhorando, mas ainda são muito precários. As condições de saneamento básico e segurança são precárias. Obviamente, que isto não vem em decorrência da ponte, mas as pessoas de lá estão sabendo do impacto sobre isso e querem saber como o governo vai atuar, mesmo antes da ponte, para intervir nestas questões. Ainda teremos várias outras audiências para discutir, por exemplo, o traçado, a definição da requalificação da BA 001, que sai de Bom Despacho e segue até a Ponte do Funil. Mostramos, claramente, que estamos discutindo um anel rodoviário e não apenas uma ponte. Este anel vai sair de Castro Alves, passando em Conceição de Almeida, Santo Antônio, Ilha de Itaparica e chega a Salvador.

Como é que está a questão do impacto ambiental, na perspectiva de que no Porto de Suape, em Pernambuco, existem estudos que apontam que a construção do porto esteja atraindo os tubarões para as praias? Na Ilha de Itaparica existem as comunidades de marisqueiras e outras que podem sofrer o impacto com a construção. Existe alguma avaliação nesse sentido?

O estudo está contratato. Vamos começar em breve. Mas tem uma diferença substantiva entre um porto e uma ponte. O porto bloqueia parte da corrente porque é uma estrutura sólida. Já a ponte é um conjunto de pilares. Grosseiramente, posso dizer que as obras são completamente distintas. Outra questão importante é que estamos em uma baía (Baía de Todos os Santos) que tem um grau de renovação de água muito intenso, as correntes são muito fortes. A condição é diferente de uma região que tem as águas menos movimentadas. Globalmente é diferente. O estudo específico vai analisar o todo.

Qual a estratégia para explicar os passos para as populações? Ainda não existem os estudos, mas os passos estão sendo dados? Como está a compreensão do processo?

Uma grande preocupação das pessoas é: será que essa ponte vai sair mesmo? As pessoas falam que tem metrô, Rio São Francisco. Quando a gente vai olhar estes projetos percebe que eles começaram sem projeto. O que estamos fazendo é exatamente aprofundar um projeto. Nós vamos estudar a engenharia, as águas, vamos fazer o estudo de impactos sociais, vamos fazer o estudo de modelagem financeira, antes de fazermos a licitação para a construção da ponte e a operação de uma rodovia de 150 km. Portanto, vamos fazer a concessão de um anel rodoviário que vai permitir outra saída para a Região Metropolitana. Hoje, a única saída é a BR 324. Somente pela BR 116 serão poupados 150 km para chegar a Salvador. Estamos na fase de projetos. É claro que as pessoas estão querendo os detalhes, mas isto ainda não tem ainda. Mas nós vamos buscar as respostas. É por isso que o Estado está investindo quase R$ 91 milhões nesta etapa.

Estes estudos todos ficarão prontos em um ano.

Sim, em ritmo de Bahia Grande.

Como é que está a resistência à ponte de maneira geral? Por que existem pessoas que afirmam não ser esta uma prioridade. Que é preciso investir em Educação e Saúde, por exemplo.

Acho que tem duas coisas ai. Uma é a incredibilidade na viabilidade da ponte. É evidente que ainda não temos os números finais de orçamento. A estrutura da modelagem financeira está em processo de montagem, a inclusão disso no PAC é um processo. Mas está tudo andando. Diria que com um pequeno atraso, mas ainda dentro do cronograma que traçamos no início do ano, na ideia de que faremos a licitação no ano que vem. Outra coisa que eu considero um equívoco é isto de dizer que precisa de hospital, escola. Tudo bem, isso é verdade, mas no orçamento público existem caixinhas para buscar dinheiro diferente para projetos diferentes. Se não tiver projeto de infraestrutura, não vai ter acesso a recurso de infraestrutura. Não adianta querer dinheiro de infraestrutura para colocar em escola. O projeto tem que ser de infraestrutura. Os recursos de Saúde e Educação estão sendo investidos enormemente. Nós crescemos a rede de atendimento hospitalar no estado. Hoje nós temos 96% das crianças de 6 a 14 anos frequentando as escolas. Nós precisamos melhorar a qualidade das nossas escolas e isto é custeio, não é recurso de investimento. A ponte é dinheiro de investimento. Não fazer o projeto da ponte é não buscar mais recursos para infraestrutura. Esta obra vai mudar a vida de 4.4 milhões de pessoas.

Como garantir que a ponte seja um projeto de Estado e não de governo? Muitas obras deixam de ser realizadas ou são tocadas em ritmos diferentes quando acontece a mudança de gestão, a exemplo do próprio metrô de Salvador, Fiol e Transposição do Rio São Francisco.

Não me parece que o grande problema destas grandes obras tenha sido a mudança de gestão. Acredito que o principal problema foi exatamente a não maturidade do projeto. Se não tem a maturidade ainda não se transformou em contrato executável, ele não pode responder rapidamente às demandas dos órgãos de controle. Porque não tem projeto. Muitas obras foram decisões tomadas sem uma maturidade sobre o assunto de forma mais precisa. O que estamos tentando é exatamente minimizar este risco. A ponte não é uma ideia nova. Ela está prevista desde os primeiros desenhos de Sérgio Bernardes para o centro industrial de Aratu em 1967. Portanto, é ideia que está sendo aprofundada desde então. O governo está desde 2010 avançando neste projeto. É claro que todo o investimento que está sendo feito pelo governo será ressarcido por quem vencer a licitação. Não é fundo perdido. Este vai retornar. Outro elemento é que quando incluirmos ela no PAC, ela passa de governo. No PPA também tem o mesmo efeito. Essa não é uma ponte que é para um governo. Ela não será concluída no governo Jaques Wagner, não será pelo próximo, ela vai levar três governos para ser concluída. Ao contrário do que dizem, que é um projeto eleitoral, ela é sim um problema eleitoral. Porque vai passar por três governos. Ela um projeto, no primeiro momento. Depois será uma construção que será considerada eterna, porque vai demorar e não será concluída no segundo governo. É bom lembrar que nós estamos falando da Baía de Todos os Santos e nos últimos 70 anos ela cresceu em direção a Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho. Há 70 anos o desenvolvimento caminha em direção ao nordeste do estado. Agora, vamos caminhar em direção ao Oeste e Sul, esta virada não se dá rapidamente. É estrutural.

O anúncio de cortes nas despesas feito pelo governado Jaques Wagner pode influenciar na ponte? As secretarias terão que contingenciar 15%.

O contingenciamento foi feito nos recursos próprios e os da ponte são de empréstimos. Novamente é aquela história de fontes distintas.

PETROBRAS

Secretário, a edição da revista Época do dia 9 de agosto trouxe uma denúncia grave sobre a existência de lobby dentro da Petrobras durante a sua gestão. O denunciante, João Augusto Henriques, falou sobre diversas atividades que realizou enquanto operador da companhia no exterior. Relaciona decisões com a escolha de empresas e a divisão de comissões para deputados e militantes políticos filiados ao PMDB. O que o senhor tem a dizer sobre o assunto?

Vamos analisar friamente o que está escrito na revista Época. O que está escrito é um depoimento de um cidadão que faz uma série de autorreferências do que fez ou deixou de fazer. Do que se refere a mim, que ele fala que teria havido uma conversa minha com o senador Romero Juca sobre a CPI da Petrobras (de 2009), eu desminto peremptoriamente. É mentira dele. O senador Juca também desmentiu. Esta conversa não existiu. Agora, se foi uma conversa minha com o Juca, e eu estou dizendo que não houve e o senador também nega, ele (denunciante) deve ter delirado. Mesmo que eu tivesse dito que era verdade, essa é outra contradição dele, ele diz que criei problemas depois. Na verdade, o contrato que foi feito pela Petrobras (com a Odebrecht) demorou por que estávamos discutindo como resolver a questão dos resíduos sólidos da companhia em dez países diferentes. Todo o tempo de discussão foi para adequar o contrato aos dez países. Portanto, é uma acusação ilógica. Depois ele ainda inventa uma história, porque para mim é invenção, pois não conversei com João Vaccari (o secretário das Finanças do PT à época) sobre isso, que seria para ajudar a campanha da presidente Dilma. Isso também é uma imaginação forte dele ou do repórter. Eu não vejo motivo para ter CPI, neste aspecto, porque é uma ilação feita ou por ele ou pelo repórter. Não conheço este cidadão. Nunca estive com este cidadão. Fui contrário à indicação dele à diretoria internacional da Petrobras em 2008.  Pela experiência dele na BR distribuidora entre os anos de 1993 e1999. Eu cheguei à Petrobras em 2003, anos após ele ter saído. Mas eu tinha informações sobre quem era ele. Portanto, eu não vejo porque existir uma CPI para mim. Agora, se o PMDB quer fazer uma CPI porque conhece ele, porque tem relações com ele e as denúncias que ele faz dos deputados do PMDB, é um problema deles. Eu não tenho porque estar envolvido nisso.

Secretário, a reportagem da revista revela que a diretoria internacional foi cedida pelo presidente Lula ao PMDB e os peemedebistas acabavam controlando esta questão de comissão por fechamento de negócio. Qual era a relação do PMDB com a Petrobras naquela época?

Não existe relação do PMDB com a Petrobras. Não existe relação do PT. Não existe relação partidária com a diretoria da Petrobras. A diretoria da Petrobras é uma diretoria colegiada. As decisões passam, antes de chegar à diretoria, por um conjunto de técnicos, comitês e procedimentos. Não tem uma coisa que se decide isoladamente na diretoria. É muito estranha essa denúncia. É tão estranha que o próprio autor desmente. Uma denúncia que o autor desmente, os acusados desmentem, vira assunto porque está publicado em uma revista..

Como foi o dia a dia durante a CPI de 2009. Dentro da empresa, as pessoas. Como foi conviver com ela até o arquivamento?

O que está sendo dito pelo PPS e PSDB não é verdade. A CPI foi concluída, ela não foi arquivada.  O PPS e o PSDB saíram da CPI, mas ela foi concluída. Tem relatório de conclusão. Evidente, que uma CPI perturba uma empresa, principalmente, uma do tamanho da Petrobras. Você passa ter uma pressão permanente de boatos, ilações, denúncias, suspeitas que não são confirmadas. Nós criamos dentro da empresa todo um conjunto de setores que ficaram dedicados durante a CPI para responder a CPI rapidamente. E tivemos uma iniciativa que provocou, na época, grande discussão na imprensa, mas que hoje todos aceitam como iniciativa importante e pioneira, que foi o Blog da Petrobras (Fatos e Dados). Pela primeira vez criou-se uma quebra do monopólio da imprensa escrita na gestão entre o gerador e o usuário da informação. Nós começamos a responder à imprensa com informação que era da empresa, antes da imprensa. Criou-se uma crise na relação entre a imprensa que acha que tem o monopólio da informação e o emissor da informação, que somos nós. Isso hoje em dia é comum. Com a Mídia Ninja, com as redes sociais, todos os mecanismos de acesso direto entre emissor e usuário não é um problema, mas na época provocou a ira dos veículos de imprensa contra nós (Petrobras). Nós dizíamos de forma clara que estávamos quebrando um monopólio da imprensa como mediador entre a origem da informação e o usuário da informação. Isso é a mudança que vamos ter daqui para frente. Isso aconteceu em 2009, não de 2013.

O senhor admite que as indicações da Petrobras são políticas e que existem relações partidárias.

Não há relação da Petrobras com os partidos. Uma vez que os partidos tenham indicado alguém, este passa a ser representante da Petrobras. A gestão e o comportamento se adequa à empresa. O próprio denunciante fala isso. Ele diz que o Zelada está sendo pressionado por não poder entregar o que eles (peemedebistas) queriam. A matéria é cheia de incoerências. A Petrobras é uma empresa organizada com técnicos e técnicas que tem processos. As decisões são resultados disso. Se os cidadãos que são diretores têm suas filiações partidárias este é um direito deles. Eu fui presidente da Petrobras e nunca neguei minha filiação partidária. Sempre neguei que usei a Petrobras para ajudar o PT. Aqui na Bahia, inclusive, eu tive problema.

Se discute ainda uma mudança na lógica no que se refere à relação entre necessidade técnica e política após o ex-presidente Lula assumir. Isto aconteceu? Como se a política passasse a pautar a solução técnica e antes era o contrário. Isso aconteceu de fato ou as questões dialogam?

Que dialogam, dialogam. No exemplo da refinaria de Pernambuco é forçar a barrar dizer que foi uma decisão só política. Não foi só política. Primeiro, a discussão de uma refinaria no Nordeste aparece na medida em que se começa a ver a necessidade de aumento da capacidade de refino no Brasil. Quando tem a demanda de derivados de gasolina, QAV e GLV no Brasil. Antes disso, na época em que se estava preparando a Petrobras para ser vendida, várias negociações aconteceram em 1993 e 1994 para que as refinarias da Petrobras fossem incorporadas por outros grupos. Negociações com grupos árabes e japoneses ocorreram antes de Lula chegar ao governo. Estas negociações incluíam refinarias no Ceará, no Maranhão e em Pernambuco. A refinaria em Pernambuco foi constituída enquanto empresa antes de 2003. Portanto, ela é uma ideia que vem sendo trabalhada há alguns anos. Porque no Nordeste? A maior refinaria que o Brasil tem na região é a da Bahia. É a que fica mais ao norte do país. Só que 19% do mercado de combustível está no Nordeste e como a região tende a se desenvolver é preciso pensar em alternativas. Na época em que se pensou na refinaria Abril e Lima, na época que se pensou na de Pernambuco, do Ceará e Maranhão, o mercado brasileiro ainda não estava tão pujante como hoje, a refinaria na visão inicial serviria para processar o diesel para exportar para Europa. É mais perto da Europa. Era mais fácil levar o óleo bruto de Campos, no Rio de Janeiro, em petroleiros para o Nordeste. Processar e exportar através de lá. Com o Brasil crescendo se inverteu esta lógica. As refinarias precisam atender o mercado interno. A discussão de onde no nordeste não poderia ser apenas uma discussão política. Primeiro, no Rio Grande do Norte o porto é um limitador. Por lá, são 5 km de cinco metros de profundidade, não tem calado para o navio chegar. O Ceará tinha problema de formalização de terra, que até hoje é um dos entraves para a instalação da refinaria daquele estado. A regularização fundiária dos terrenos. Pernambuco tinha o Porto de Suape e era mais ou menos no centro da região. Naquela época ainda tinha a associação com a PDVSA. A empresa começa as negociações antes de Lula.

Secretário, esta foi apenas a mais recente polêmica envolvendo seu nome na Petrobras. A operação em Pasadena como foi? 

Tem uma confusão entre o que se divulga, o famoso US$ 1 bilhão, entre o custo da refinaria e os custos dos estoques adquiridos e as despesas adicionais para a refinaria. Em uma linguagem comum é mais ou menos igual comprar uma geladeira. A geladeira tem uma capacidade. Depois você vai ao supermercado e compra diversos produtos para encher a geladeira. Não se pode colocar o custo das compras no supermercado na conta da geladeira. São coisas diferentes. Uma refinaria com capacidade para 100 mil barris foi comprada em duas etapas. Na primeira, foram pagos US$ 190 milhões por 50 mil barris. Na segunda etapa pagou-se US$ 296 milhões para os outros 50 mil barris. A diferença no valor se deu porque a segunda parte foi judicial, foi determinada pela Justiça. No total foram US$ 486 milhões. Este valor dividido por 100 mil barris de capacidade tem como resultado a US$ 4.860 por barril de capacidade. A média das operações realizadas em 2006 de compra de refinarias foi US$ 9.740. A Petrobras comprou capacidade por metade do valor da média das transações do mercado da época. Ao lado da capacidade, comprou uma comercializadora de produtos e derivados com estoque. Pelo estoque pagou US$ 170 milhões no primeiro momento e outros US$ 170 milhões no segundo momento. Totalizou US$ 340 milhões. Além disso, comprou por US$ 173 milhões uma garantia bancária para as operações comerciais, que não tem nada a ver com a compra da refinaria. Com encargos e etc que juridicamente deu US$ 999 milhões. O acordo final somando o início e o fim deu US$ 1.1 bilhão. O que acontece ai nesta diferença, eu não sei os detalhes porque foi feito pela presidente Graça Foster, deve ter alguns elementos excepcionais que ocorreram como fruto das ações judiciais. Do ponto de vista técnico a negociação de Pasadena não tem nenhuma anomalia.

Ainda que se tenha pago metade do valor de mercado?

Eu vou usar uma expressão que considero interessante e foi usada por um senador durante a audiência lá no Congresso. ‘Todo mundo sabe que o fazendeiro compra o boi magro para engordar e vender’. No caso da refinaria o conceito é o mesmo. Você compra a refinaria que não é a melhor do mundo para investir nela, melhorar e fazer o processamento depois. A estratégia é comprar, investir e lucrar com ela. Esta é uma estratégia definida em 1999. Não foi definida por nós. A estratégia definida lá era de expandir a capacidade de refino no exterior de 300 mil barris por dia. A decisão foi tomada porque de 1995 a 2005 o consumo de combustível no Brasil era estável. Estava entre 85 e 95 mil m³ por ano. Não crescia. Estava estagnado. Quando chegamos à Petrobras com o presidente José Eduardo Dutra e eu, durante esta transição, nós mantivemos esta política até 2005. A partir de 2005 e 2006 nós começamos a crescer e depois disso dispara. Nos últimos três anos 41%. Hoje, nós estamos em torno de 140 mil m³ ano. Saímos de 95 mil m³ para 140 mil m³. O crescimento é extraordinário. Porque a frota aumentou, a safra aumentou, as estradas melhoraram, as pessoas passaram a andar de avião – só os passageiros de avião sairão de 40 milhões para 150 milhões por ano em sete anos-. A estratégia apontava para buscar uma refinaria no exterior, que não fosse muito boa, mas que pudesse processar petróleo brasileiro. Isto foi feito. Do ponto de vista estratégico foi correto. Mas ai veio uma surpresa. O mundo desabou em 2008. O mercado americano afundou. O consumo mundial afundou. As margens se apertaram. Todo mundo puxa o freio de mão nos investimentos. Então vem a crise com o nosso sócio. O sócio é comercializador não é refinador. Tem uma visão mais de curto prazo como todos do seguimento. Nós temos uma briga que vai de 2008 até 2012 na Justiça. Foi um divórcio altamente litigioso. Expliquei isso no Senado e acredito que esta questão não vai voltar porque ficou evidente que houve um exagero, uma criação de espuma e uma interpretação equivoca dos fatos.

Antes de partimos para os assuntos mais políticos, o senhor arriscaria dizer que se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vencesse a eleição de 2002 a Petrobras seria privatizada?

Acredito que existam três elementos bastante interessantes nesta estratégia. O primeiro é o seguinte: uma empresa de petróleo vive de descobrir petróleo. Para descobrir, ela precisa ter área para descobrir petróleo. Em 1998, o Brasil muda a lei e passou a ter leilões. Foram realizados quatro leilões entre 1998 e 2002. A Petrobras foi inibida de participar destes leilões. Então, se você inibe uma empresa de buscar novas áreas, o que acontece com o futuro dela? Ou ela vai para o exterior, e a Petrobras foi, ou ela vai acabar. O petróleo vai acabar, não tem jeito. Segundo elemento, as refinarias e a lógica de organização interna da Petrobras era um exagero do conceito de unidade de negócios. A empresa estava estrutura como várias unidades de negócios e essas várias unidades, que tem um conceito interessante no qual se consegue ver o que cada unidade tem de contribuição, mas com isso se perde a vantagem da corporação como um todo. Você passa a ter atividade jurídica, técnica, manutenção, serviço em cada unidade. Nós fizemos uma mudança grande em 2003 que foi dizer o seguinte: olha, a empresa está organizada em unidade de negócio, mas o importante é corporação como um todo. O conjunto da empresa é mais importante que cada parte da empresa. Na medida em que estava se fortalecendo como cada parte, ela facilmente poderia ser vendida como cada parte. Como se ela estivesse sendo fatiada. Ao meu ver, ela estava sendo preparada para ser parcelada. Seria uma desmontagem do sistema Petrobras que iria ficar focado em 30% do horizonte exploratório, além de ter algumas refinarias. Ela estava inibida, proibida, fora da atividade petroquímica. A Petroquisa tinha sido privatizada. Não se expandia e não tinha nenhuma possibilidade de entrar na área de álcool. Na área de energia elétrica, os contratos que encontramos foram absurdos. Inclusive, um com o Eike Batista, que é o contrato que a Petrobras pagava, na realidade, ao sócio privado pela termoelétrica condições que eram de prejuízo permanente. Jamais com aquela condição de contratado a Petrobras poderia ter algum retorno. Nós transformamos o setor de gás completamente. Hoje a Petrobras tem de termoelétrica interna capacidade de gerar 7.3 mil megawatts de potência elétrica, que equivale à parte brasileira de Itaipu, e desmontamos estes contratos. Estes contratos eram também de privatização da Petrobras. Por fim, eu diria que do ponto de vista do pessoal e daquilo que é fundamental na indústria do petróleo que é o desenvolvimento científico e tecnológico foi desmontado. O Senge, setor de engenharia da Petrobras foi desmontado. Se dizia que a Petrobras não iria desenvolver tecnologia porque ela poderia comprar tecnologia no mercado. Nós revertemos tudo isso. Nós dobramos a capacidade de pesquisa da Petrobras. Nós viabilizamos o conjunto de redes temáticas com mais de 100 instituições universitárias brasileiras. Montamos uma rede de laboratórios no país. Criamos algumas centenas de grupos de pesquisas que trabalham financiados em problemas relacionados a hidrocarbonetos. A versão anterior era apequenar a Petrobras, parcelar a Petrobras e, portanto, a saída seria inevitavelmente vender. Quando chegamos em 2003 a Petrobras valia 15 bilhões dólares e hoje, depois de toda a crise, de todos os problemas, valemos mais de 100 bilhões de dólares. Quando se fala que a Petrobras desabou o valor, se compara com 2010 e com 2009, porque que não compara com 2002?  2009 ou 2010, nós estávamos na presidência. Eu desafio a qualquer um que vá comparar 2003 a 2013 com 1993 a 2003 e ver como a Petrobras foi bem administrada.

Caso todas estas mudanças não fossem feitas o pré-sal não seria descoberto?

O pré-sal não seria. Muitas outras coisas também. Nesta busca de expansão da atividade exploratória nós tivemos duas coisas importantes. No primeiro leilão do governo Lula a Petrobras entrou arrasando. Adquiriu um monte de área, inclusive, algum as delas sozinha – o que não era comum. Segundo, ela adotou uma política de exploração ao norte da bacia de Campos e descobriu a do Espírito Santos. Foi ao sul da bacia de Campos e descobriu a de Santos e o pré-sal. Se não tivesse esta busca de expansão da exploração, nós não descobriríamos o pré-sal.

Algumas motivações destas denúncias podem estar relacionadas com a descoberta do cartel do metrô em São Paulo? O senhor acredita que as denuncias podem ter como proposito afastar um pouco o holofote?

Eu acho que sim. Geralmente, acontece isso. Se cria um assunto para obscurecer outro. Acredito que esta matéria da Época tem essa intenção. Não sei se vai conseguir. Porque os dados e fatos do caso daquilo que estou chamando de “trensalão” são bem significativos. O fato é que eu acho que a tentativa de criar outra confusão, tentando envolver o PT em algo que ele não tem nada a ver, é algo que se tiver – não estou dizendo que tem – é um problema da fonte com o PMDB. Para criar um clima de que é um caos generalizado, de que todos são iguais, todos são cachorros. Acho que tem esse motivador.

POLÍTICA

Eleição interna do PT. Qual a importância para a decisão do indicado à cabeça de chapa?

Nós temos cinco candidatos na Bahia à presidência estadual do partido. No Rio de Janeiro tem 21. O PT é o PT. A disputa dentro do PT é absolutamente normal. Eu pessoalmente estou na chapa do Everaldo Anunciação, mas apoio também Ernesto Marques. Acho que Ernesto tem uma proposta de fazer um debate político de qualificação da análise do momento atual. De redefinição dos papeis institucionais do partido. Tenho apoiadores firmes na chapa de Everaldo e na chapa de Ernesto. Por isso, acho que a eleição interna não é a mesma coisa que a escolha de candidato. No lançamento da candidatura de Rui Falcão (reeleição para presidência nacional do PT) ontem (13/08) estávamos eu, Rui Costas e Caetano. Estávamos em três no lançamento. O alinhamento das pré-candidaturas ao governo com a presidência do partido não é direto.

Toda essa fase que está atravessando, com muitas denúncias e críticas pode impactar no projeto de ser candidato da base. O quanto toda esta exposição pode te prejudicar, se é que prejudica?

As denúncias ao meu ver são muito frágeis. Tenho usado bastante a expressão que é tiro de pólvora molhada. Tiro de munição molhada da chabu, não tem efeito. Acho que são furadas. Evidente que não é nada agradável ficar exposto e ter ficar dando explicação sobre o que está acontecendo. Acho que as noticias que têm circulado em alguns veículos sobre inviabilizar a candidatura não parecem ter base real. Porque a minha pré-candidatura é uma decisão do diretório estadual do partido. São quatro nomes. Até agora, o diretório não modificou esta política. Os meus apoiadores estão ao meu lado. Até que se tenha outra decisão a minha pré-candidatura está mantida. Não vejo, portanto, porque estas falsas acusações poderiam prejudicar esta candidatura que está colocada numa visão de continuação do governo Jaques Wagner, de manutenção das alianças feitas pelo governador Jaques Wagner, numa visão de avançar nos programas estruturantes já desenvolvidos pelo governador, numa visão de avançar nos mecanismos de democracia participativa que nós montamos nestes últimos anos de governo. Estreitar a gestão com a participação social.

Como o senhor avalia a força interna do partido, e a capacidade de dialogo com os aliados para escolha do cabeça de chapa. Convencer os aliados de que deve ser um petista e não outro como Marcelo Nilo (PDT) ou Lídice da Mata (PSB)?

A posição unanime do diretório estadual do partido é de que o candidato à sucessão do governador Jaques Wagner deve ser do PT. Ninguém pode dizer ainda se vai ser, mas a posição do partido é essa e não é uma coisa ilógica. Primeiro, é um partido enraizado. O PT está organizado em 416 dos 417 municípios da Bahia. O PT tem 92 prefeitos eleitos, é o partido com o maior número de eleitos. Tem a maior bancada de vereadores eleitos, de deputados estaduais e federais. Teve mais de um milhão de votos a mais que o segundo partido mais votado. Tem quatro nomes para colocar à disposição. Como é que este partido vai abrir mão de liderar. É o partido da presidente da República, é o partido do governador. Foi o líder de uma aliança em que todos os partidos cresceram. Quem diminuiu foi a oposição. É um partido que defende uma aliança com a base, defende a participação da base na chapa majoritária. Está disposto a discutir as condições de chapas proporcionais. Qualquer um dos quatro candidatos tem a mesma posição. O meu amigo Caetano diz sempre que: três terão que renunciar. Somos militantes antigos do partido e não acredito que haja nenhuma beligerância entre nós. Estamos trabalhando. Quem está no governo está principalmente cuidando do governo e quem está fora está cuidando do partido e do mandato. São tarefas diferentes que estão sendo feitas por cada um. O governador Jaques Wagner é o timoneiro mor. Ele tem como característica histórica dele, e eu o conheço a mais de 30 anos, a capacidade de diálogo, de articulação, de ouvir e conduzir o processo com o mínimo de traumas. Além disso, o PT tem cinco candidatos à eleição interna. O partido é o único que tem eleição interna. Aqui na Bahia são 100 mil filiados, que são potenciais eleitores. É uma eleição que não é pequena. Nós fizemos debates regionais, vamos continuar as discussões internas com o PED, mas eu acredito que vamos chegar.

Qual o peso de Lula na estratégia eleitoral nos estados e mais precisamente na Bahia?

O companheiro Lula é o presidente de honra do PT. A principal personalidade política do país. As pesquisas eleitorais estão demonstrando que se ele fosse candidato poderia vencer ainda no primeiro turno, então, continua com um grande apelo eleitoral. Ele terá papel importante, mas não é o único ator importante. O PT tem essa rebeldia saudável que não basta a liderança decidir. O companheiro Lula sabe disso. Ele pode ter uma opinião, que é muito importante, mas não é a única. O presidente Lula, eu o conheço bastante, tem por mim uma relação que me faz ter extraordinária admiração pelo tratamento que ele me dá. Eu acredito que tenho a confiança dele. Ele brinca às vezes que deveria ter uma mudança na qual o presidente da Petrobras deveria ser eleito e indicar o presidente da República. Na verdade, a visão do presidente Lula sobre a Bahia é a melhor possível. Ele sempre esteve aqui. Veio, inclusive, no mês passado. Tem uma visão clara do estado. Sabe que sou candidato. Não recomenda que eu retire a pré-candidatura, portanto...

Te apoia?

(risos)

É mais fácil ser presidente ou ex-presidente da Petrobras?

Ex é permanente. O atual é sempre passível de mudar. O ex é e sempre será ex.

Classificação Indicativa: Livre

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