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Pós-término

Publicado em 27/03/2017, às 22h05   Guilherme Reis*


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Quando você menos espera, o amor acaba. Numa boate lotada, numa rua deserta preenchida pelo som do vento; no quarto, enquanto você lê Paulo Mendes Campos; no banheiro, no momento em que você, com os olhos fechados, deixa a água levar embora o excesso de xampu do cabelo. Em qualquer lugar o amor pode acabar. Pior é quando você ainda ama e é avisado que o outro não te ama mais. A vida que existia em prol de ambos precisará ser descontinuada; agora será cada um na sua, trilhando o próprio caminho.

Em qualquer que seja o caso, a saudade baterá à porta por tempo indeterminado. A saudade te seguirá furtivamente pela rua, sem que você perceba; e estará escondida sob a cama, esperando para puxar-lhe o pé quando as luzes se apagarem e te botarem de frente com os próprios fantasmas.

Você poderá até querer manter a amizade, mas vai descobrir que é mais difícil do que imaginara. O orgulho ferido, a tristeza latejante, ou até mesmo os resquícios de afeto, não deixarão. Sentimentos são indisciplinados e, por mais maduros que sejam, vão sempre querer agir por conta própria.

Administrar a solidão também será complicado. Voltar a ir ao cinema sozinho, viajar sem a presença conhecida no assento ao lado, não ter para quem telefonar no fim do dia e extravasar o estresse do trabalho. A sensação será de algo faltando, melancólica em nível fúnebre. Por isso acho de suma importância manter as antigas amizades e companhias mesmo no auge da relação. Já escrevi sobre isso aqui. Muitas vezes, a solidão deixa de ser opção e passa a nos ser imposta em virtude de decisões erradas que tomamos. Nesses momentos, pensamos: “Poderia ter agido diferente”.

Mas esse momento também é oportunidade para buscarmos o autoconhecimento. Ao comentar a minha crônica anterior, um amigo disse que amar o primeiro que aparece é não sabermos quem de fato somos quando estamos sozinhos. Encarar os nossos defeitos e, ao mesmo tempo, reconhecer e valorizar as nossas qualidades (porque elas existem) é uma boa maneira de sair da fossa e se preparar para o próximo relacionamento. E, consequentemente, conduzi-lo com mais competência. 

*Guilherme Reis é repórter do Bocão News e escreve neste espaço às segundas-feiras.

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Classificação Indicativa: Livre

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