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Relacionamento perfeito

Publicado em 20/03/2017, às 09h11   Guilherme Reis*


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A sua alma-gêmea não chegará montada em um cavalo de raça nobre, mas dirigindo um esportivo que custe pelo menos R$ 200 mil. Terá beleza estonteante e corpo atlético, mas nada de músculos demais, e vestirá os últimos trends da moda internacional. Falará três idiomas, entenderá de literatura, cinema, arte e música clássica, e, na balada, sempre terá disposição para dançar Anitta com você.

Frequentará restaurantes refinados, mas saberá apreciar um churras na laje quando você resolver levá-la a um. A sua alma-gêmea será gentil, carinhosa e perdidamente apaixonada por você, e exibirá todo esse amor no Facebook e no Instagram. Todos os seus amigos morrerão de inveja da sua sorte, é claro. O sexo será o melhor da sua vida. Sem falar que vocês nunca - eu disse nunca - brigarão.

A descrição acima é receita de felicidade para muitas pessoas, o que talvez seja um dos motivos para a existência de tanta gente solitária, tanta carência e, ironicamente, tanto medo de se apegar. Não é crime sonhar em ter um relacionamento minimamente sólido, mas a busca precisa ser realista, objetiva e madura para que tenhamos chance de alcançar o sucesso.

Algumas pessoas agarram o primeiro ou a primeira que aparece por temerem a solidão, imaginando que o companheiro certo, a alma-gêmea, cedo ou tarde chegará. Mas não percebem duas coisas: a primeira é que o medo excessivo da solidão é o medo de si mesmo e do próprio silêncio; a segunda é que a alma-gêmea não virá enquanto a nossa não estiver preparada para recebê-la.

E esse rito de preparação começa quando nos resignamos ante as imperfeições do outro e de nós mesmos. Quando entendemos que é impossível construir uma vida a dois sem ter de enfrentar problemas inerentes ao cotidiano de cada um; que haverá desentendimentos, e que a felicidade absoluta não existe, por mais ricos e bem-sucedidos que ambos eventualmente possam ser. 

*Guilherme Reis é repórter do Bocão News e escreve neste espaço às segundas-feiras.

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