Denúncia

O dia em que a pedrada em você machucou a mim

Publicado em 06/07/2015, às 09h12   Cintia Kelly


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Vítima de policiais que se comportaram como marginais, meu amigo e colega de trabalho Marivaldo Filho não virou uma mera estatística. Editor de política deste site, ele teve o apoio de colegas, chefes, entidades de classe e políticos. Ao gravar com seu celular a cena em que policiais batiam em um homem, Marivaldo passou a ser o agredido. Bateram-lhe tanto, que, por pouco, ele não perdeu os sentidos. Foi algemado, jogado em camburão e levado a um posto médico. Ele levou oito pontos na cabeça. Na alma, a ferida ainda aberta, sangra.
Todos os dias algum inocente tal qual Marivaldo apanha de policiais que se comportam como bandidos fardados. Alguns são mortos e tem o corpo largado em um ponto de desova. Não há comoção. O estardalhaço se resume a um pai ou uma mãe à procura solitária por um filho desaparecido. A invisibilidade sempre vai fazer toda a diferença.
Preto, pobre, no lugar errado, na hora errada sempre será alvo desses que são pagos por todos nós e entram na corporação sem o menor preparo psicológico. Até quando vamos sentir medo daqueles que deveriam nos dar segurança? Até quando o Estado vai manter em seus quadros essa minoria que se comporta como verdadeiro bandido? Até quando o lado bom da polícia será sufocado por esses poucos facínoras? 
A pedrada que Marivaldo levou na cabeça doeu em mim. Mas essa dor não pode ser tão localizada assim. Que a pedrada recebida por Joao, Pedro, Davi, Maria, Eliana...e um sem número de pessoas doa em mim e em você. E que esse grito se espalhe pelas redes sociais, pela imprensa e chegue às autoridades que podem e devem punir exemplarmente os culpados. Não só os quatro que atingiram o meu amigo, mas todos os outros que atingem os "invisíveis", os "anônimos", diariamente.
Encerro citando o escritor inglês John Donne e o que há de mais bonito, humano e verdadeiro na literatura. Um alento aos solidários e um soco no estômago dos egoístas. "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".
Cintia Kelly é repórter de política do Bocão News.

Classificação Indicativa: Livre

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